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Os sobressaltos do tempo amanham
as rupturas. São encruzilhadas onde rejuvenescem, com vivacidade, as resoluções
que se não tomam amiúde. Mudamos porque tem de ser. Ou mudamos porque à mudança
somos conduzidos sem o concurso da vontade. Não interessa a origem da mudança. Só
a mudança em si. Como oportunidade para avivar os horizontes onde o olhar se
fixa, uma justaposição de vontades dispersas até que uma venha à tona.
Não chega a mudança física. Ela
entreabre a janela para a mudança por dentro da mudança, a que busca um módico
de transformação dos lugares feitos, dos saberes adquiridos, dos hábitos que se
tornaram rotinas já enfadonhas. A mudança, quando assoma por dentro da própria
mudança (uma mudança ao quadrado, tomando de empréstimo linguagem dos
matemáticos), é um voltar atrás com os ponteiros do relógio. Desfazem-se as
coisas de onde elas tinham entronização. Algumas estão fadadas a perecer nas
profundezas do lixo, descoberta, tantos anos depois da poeira assimilada, a sua
inutilidade. Outras não se demovem do seu lugar consagrado. Apenas mudam de
sítio, sem perderem o lugar centrípeto que é seu. Com elas muda a vontade de
mudança, um eflúvio de ar renovado que sopra de quadrantes invulgares.
A rotina que chega ao alpendre
do doentio, de mão dada com a acomodação servida no cálice da inércia, dá o
mote para a mudança por dentro da mudança. É como se de repente um tufão imprevisto
irrompesse terra dentro, arquejado pela maré enfurecida, prometendo destroços
abundantes à hora do rescaldo do cataclismo. Os destroços são retirados sem
lágrimas, sem pesar que seja pela cruel tempestade que causou toda a
devastação. Depois dos destroços, as mãos entregam-se à construção.
É um novo que se amontoa vindo
do nada. Ou a imagem da mudança por dentro da mudança. Um pretexto para iludir o
tempo que avança.
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