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As rugas, a mortalha das
expirações temporais. Profundos os regos que dividem a pele, como se rios
tivessem adestrado a erosão transformada em rugas. Ou as mãos alisadas, um santuário
de doçura, como se nunca tivessem adejado inquietações sonâmbulas. Há mãos que
são arte fingida, os poros destilando uma pele glacial que não apetece beijar.
Há as mãos refúgio, as mãos suadas e quentes. As mãos que apetece resguardar.
Diamantes em bruto, um mapa legível de onde se alcança o firmamento que promete
deleites que divindade alguma consegue amparar.
As mãos são como mapas. Ensaiam-se
em coreografias subtis, uma leveza de gestos em que apetece demorar. São mapas
por vezes árduos na sua decifração. Espalham os pregos por diante, nas exigíveis
ameias que escondem tudo do exterior, armadilhando os contrafortes onde os
peregrinos pagam promessas. E nem assim coalha a sua magistral singeleza, os
gestos que parecem dedadas de pintor deixadas numa tela em branco. Fechem-se os
olhos, desvele-se o que a imaginação imprime: seriam quadros singulares, as
cores harmoniosas, traços vigorosos, umas poucas palavras em jeito de mote –
que as mãos tanto são o refrigério da criação, como dela podem esvoaçar os
gestos que se perdem em danças perenes.
Essas mãos são o palácio dos
afagos, um desafio às divindades a que se procura peugada. As divindades são
supostas, as mãos convergem na alforria dos sentidos; quem pode assegurar que
as divindades são entes maiores, se o que nos é dado a apreciar é o desejo coreografado
pelas mãos? É que as mãos, em sendo mapas, são oráculos que deixam homenagem ao
tempo emoldurado. São oráculos ao contrário. Afivelam as lições do tempo
pretérito. São deixadas, as lições, no campo onde fervem as sementes do futuro.
As mãos dizem tudo. As mãos
falam por quem as tem.
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