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A ética capitalista, em maré
baixa pelos tempos que são, consagra os saldos como hino à humildade. Uma
empresa aceita que ao preço lucrativo já não consegue atrair clientela capaz de
escoar os derradeiros stocks. É
quando a máquina de calcular entra em ação para fixar o desconto pespegado à
etiqueta que anuncia o produto. A empresa compreendeu que os clientes mais
ávidos já tinham comprado a mercadoria e que, a partir de certa altura,
escasseiam os consumidores dispostos a pagar o preço justo pelos primeiros
compradores. O vendedor aceita baixar o preço como engodo para os clientes que
achavam dispendioso o preço primeiro, ou para seduzir outros que, a um preço
mais baixo, se alistam no mercado de escoamento das sobras que, de outro modo, vão
encher os armazéns de relíquias.
É uma ética quando se é humilde
e dá o braço a torcer. Os saldos são como uma mensagem para os compradores que
ainda o não foram por esbarrarem num preço que não podem (ou não querem) desembolsar.
A mensagem é uma confissão do vendedor: “eu
aceito baixar o preço se o comprador quiser outra oportunidade para deitar a mão
à mercadoria”. Com os saldos, o vendedor admite que estava, antes deles, a obter
um lucro alimentado pelos compradores aliciados pela mercadoria.
Esta ética adiciona outra
vantagem, na forma de uma segunda, e talvez mais subliminar, mensagem: quem
comprou o bem ao preço muito lucrativo para o vendedor, já sabe que noutras
épocas a empresa vai agendar saldos vantajosos. Com os saldos, o vendedor envia
um sinal ao comprador que já o foi e o poderá voltar a ser depois: “aguardem pelos saldos, sejam pacientes,
saibam obter poupanças com o que comprarem”.
E ainda dizem que a economia
capitalista é uma sórdida história de manipulação das vontades dos compradores,
das vontades assim sequestradas pelos truques comerciais de quem vende. Os
ricos estão a precisar de um Robin dos Bosques, ou de um ideólogo que desfaça
preconceitos às três pancadas alinhavados por profetas que defendem (ou dizem
defender) os desvalidos.
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