10.8.12

Um Prozac para a realidade


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Ai, as dores do mundo em sua rotação diária entrando pelos olhos em forma de notícias. Prometera recusar jornais, televisões, rádios e informação enxameando sites. Uma anestesia contra as dores do mundo na sua rotação diária.
Contudo, o mundo, na sua diária rotação, era irrecusável. As horas moviam-se, os dias repetiam-se, o planeta incapaz de se deslocar um milímetro do epicentro rotineiro. A imprensa era cadafalso para onde era atraído o cidadão como testemunha interessada das misérias em múltiplas variedades. Havia assassinos estultos, gente a guerrear-se, o sangue de inocentes derramado pela frivolidade dos guerreiros de circunstância. Catástrofes naturais, talvez a prova derradeira da inutilidade da metafísica. Gente assoberbada pela ganância, gente capaz de vender a descendência para amealhar uns cobres, gente empenhada no jogo fruste da corrupção. A gente que se perpetua na espécie sem solução.
As dores lancinantes bolçavam desde as entranhas a cada episódio decadente que se esmagava nos olhos atentos. Tomara uma resolução: correr uma cortina de grosso pano sobre a janela que se entreabria aos folhos da realidade. Já que a janela não podia ser fechada às dores do mundo na sua diária rotação. Podia ser uma anestesia que iludisse as cores disformes da realidade. Pintada, a realidade, em tons garridos, como se atuasse sobre o efeito de alucinogénios. Podia apenas embaciar o olhar de cada vez que as notícias tomassem de empréstimo maleitas que enfeitam o pessimismo antropológico. Estava convencido a mudar o estado de coisas. Se anestésico não pudesse ser (que o corpo se entrega à letargia total, um patamar perigosamente perto da defunção), ao menos que promovesse um ansiolítico que devolvia o corpo a um estado de pureza idealizado.
Dir-se-ia, então, que havia realidades verticais, plano inclinados que eram alternativos ao chão calejado pelos sentidos na sua dolorosa claridade. Era alineação – concedia. Se ela viesse com a serventia de ocultar patologias dedilhadas pela realidade plúmbea e melancólica, que os braços abertos estivessem preparados para a receber.  

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