In http://imageshack.us/photo/my-images/106/chuvakb9.jpg/
Ai, as dores do mundo em sua
rotação diária entrando pelos olhos em forma de notícias. Prometera recusar
jornais, televisões, rádios e informação enxameando sites. Uma anestesia contra as dores do mundo na sua rotação
diária.
Contudo, o mundo, na sua diária
rotação, era irrecusável. As horas moviam-se, os dias repetiam-se, o planeta
incapaz de se deslocar um milímetro do epicentro rotineiro. A imprensa era cadafalso
para onde era atraído o cidadão como testemunha interessada das misérias em
múltiplas variedades. Havia assassinos estultos, gente a guerrear-se, o sangue
de inocentes derramado pela frivolidade dos guerreiros de circunstância.
Catástrofes naturais, talvez a prova derradeira da inutilidade da metafísica.
Gente assoberbada pela ganância, gente capaz de vender a descendência para
amealhar uns cobres, gente empenhada no jogo fruste da corrupção. A gente que
se perpetua na espécie sem solução.
As dores lancinantes bolçavam
desde as entranhas a cada episódio decadente que se esmagava nos olhos atentos.
Tomara uma resolução: correr uma cortina de grosso pano sobre a janela que se
entreabria aos folhos da realidade. Já que a janela não podia ser fechada às dores
do mundo na sua diária rotação. Podia ser uma anestesia que iludisse as cores
disformes da realidade. Pintada, a realidade, em tons garridos, como se atuasse
sobre o efeito de alucinogénios. Podia apenas embaciar o olhar de cada vez que
as notícias tomassem de empréstimo maleitas que enfeitam o pessimismo
antropológico. Estava convencido a mudar o estado de coisas. Se anestésico não
pudesse ser (que o corpo se entrega à letargia total, um patamar perigosamente
perto da defunção), ao menos que promovesse um ansiolítico que devolvia o corpo
a um estado de pureza idealizado.
Dir-se-ia, então, que havia
realidades verticais, plano inclinados que eram alternativos ao chão calejado
pelos sentidos na sua dolorosa claridade. Era alineação – concedia. Se ela
viesse com a serventia de ocultar patologias dedilhadas pela realidade plúmbea
e melancólica, que os braços abertos estivessem preparados para a receber.
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