In http://www.tvcamaguey.icrt.cu/images/stories/clasificadas/deportes/olimpiadas/imagen-juegos-olimpicos.jpg
(Réplica
a este texto
do meu amigo Rui Miguel Ribeiro)
Os
jogos olímpicos foram uma “celebração
universal do nacionalismo”. Por conseguinte, “(f)elizmente
o nacionalismo está para durar”. Talvez o mal seja meu, que me encontro
entre os tais que, no tempo contemporâneo europeu, contribuem para o frequente
vilipendiar do nacionalismo, esse “sentimento
multissecular”. Este texto
desatou em mim uma reação em cadeia de múltiplas discordâncias. São
discordâncias destas que fermentam a admiração intelectual por ti, caro Rui
(que é muita).
Primeira
divergência: o nacionalismo não é um sentimento. Os sentimentos são imateriais
e o nacionalismo, como é reconhecido mais adiante, tem a ver com “pertença”,
“comunhão” e “identidade”. Os sentimentos nascem de dentro e exteriorizam-se.
Ora, as associações que estabeleces com o nacionalismo não são sentimentos
porque são realidades exteriores ao indivíduo. Aliás, a pertença enlaçada à
identidade comungada é um ariete que cimenta uma realidade totalitária em
detrimento da liberdade individual – o Estado, mesmo os que se arvoram campeões
das liberdades (realidade ausente, em última instância).
Segunda
divergência: associar olimpismo a nacionalismo é um mito conveniente. Um mito
que convém aos ainda enfeitiçados pelas virtudes do nacionalismo, sem
perceberem que o nacionalismo, como imposição (e não sentimento) que vem do
exterior do indivíduo, sufoca a autonomia individual. Somos obrigados a
comungar uma identidade nacional, sem que tenhamos pedido para nascer com a
nacionalidade que calhou em má sorte. Nos jogos olímpicos, as proezas dos
atletas são mérito de indivíduos (do atleta e de quem o treina). Desenganem-se
os que acham que os atletas vão aos jogos em representação da pátria (abro
exceção aos atletas daqueles países de índole ditatorial que apanham uma
lavagem cerebral e estão convencidos que transportam a pátria às costas
enquanto competem).
Última
discordância: há uma redução da história na deificação das nações. Primeiro, a
história da humanidade é muito mais antiga que o nacionalismo. Não devia, essa
história, ser vulgarizada às mãos de uma vírgula desse compêndio maior (a
vírgula, a organização das sociedades em nações). Segundo, decretar a longa e,
suponho, imutável vida do nacionalismo é uma dupla armadilha: um determinismo
do tempo futuro que oráculo nenhum consegue abraçar; e alguma ingenuidade, pois
não foi a Europa (que é desdenhada, na forma atual do seu desenvolvimento) que
provocou a deterioração das nações. Foi a globalização. Uma consequência do
capitalismo, como é sabido.
Mas
não ligues muito, caro Rui, às minhas múltiplas discordâncias. A culpa é do
marasmo das férias, que estavam mesmo a pedir uma boa, e saudável, polémica.
2 comentários:
Concordo com as suas "divergências", (ou não tivesse eu lido nestas férias SMITH, Anthony em "A Identidade Nacional").
Caro Paulo,
Primeiro, tenho que agradecer as tuas simpáticas palavras. Embora toldadas pela amizade, têm muito significado para mim.
Em segundo lugar, devo confessar que pensei em ti quando escrevia o post: "Se o Paulo ler isto, vai atirar-se ao texto como gato a bofe!" Afinal, até foste suave :-)
Relativamente às divergências:
1- Admito que o Nacionalismo é incutido. Contudo, é algo que se sente. Ou não. Eu sinto. Tu não. O facto de não brotar espontaneamente dentro de nós, não exclui que o indivíduo o sinta, mesmo que na origem exista um condicionamento. Finalmente, a pertença a um grupo, neste caso nacional, não temn que ter um cunho totalitário. É óbvio que constrange a liberdade o que é algo que decorre da integração social, seja nacional ou outra, mas num país demo-liberal, o indivíduo retém ampla margem de liberdade.
2- Sim, há pessoas que não ficam contentes "com a nacionalidade que calhou em [...] sorte" , mas nesses casos pode existir um opting-out... Quanto aos atletas, discordo, porque há muitos que ficam visivelmente emocionados ao ouvir o hino e ver a bandeira e esta está omnipresente nas celebrações.
3- Eu sei que há mais História para além da nação, mas convenhamos que 400 anos são bem mais do que "uma vírgula". Não, não acredito no determinismo histórico, nem tenho dons de adivinho. A frase final "Felizmente, o Nacionalismo está para durar." significa uma previsão, an educated guess, baseada na minha análise do presente e da forma como vejo a evolução das RI. Vale o que vale, admito que valha pouco, mas é o que eu penso.
Um grande abraço
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