27.8.12

Diabo tendeiro


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Águas agitadas inquietavam os instintos. Era como se, às tantas, os pontos cardeais não rimassem com as bússolas existentes. O corpo, refém entre duas águas vorazes, uma salgada e a outra doce, queria alinhar pelos sentidos proibidos. Esse não era o mal; o que cheirava a ranço era a diatribe interior: estava dividida entre render homenagem aos preceitos da normalidade e a indómita vontade de infringir. Sentia um diabo a passear-se, irrefreável, por dentro das veias. Esbarrava nos anticorpos da racionalidade que não paravam de sussurrar os perigos da rebeldia apetecível. Mas as vozes dos diabretes eram mais audíveis, terrivelmente sedutoras. O frémito contagiava o corpo, afogueado naquele dia invernal que mais parecia o mais quente do ano, por estar domado pelos tiranetes endiabrados que queriam locupletar a sua vontade. Ela sabia que arriscava decair em ruínas se os perigos advertidos tivessem confirmação. Em instantes de abreviada sensatez, uns laivos de racionalidade cobravam as hesitações que abrandavam o devaneio proibido. Mas logo as vozes tão serenas eram obliteradas pela vozearia hasteada por demónios impantes. O corpo dela já se tinha entregue à coreografia que pressagiava o ocaso possível, imersa na escolha das intuições adulteradas. Ou podia ser que as bitolas estivessem trocadas e os pontos cardeais, tal como são conhecidos, fossem um ardil para destravar a corrupção dos conceitos. O bem seria a maldade encapotada. O mal, apenas um engodo semeado pelos seus querubins que, disfarçados, seduziam os incautos com a contrafação dos sentidos. O diabo tendeiro, já não sabia o que seria. E, no auge da desequilíbrio, deixava o entendimento refém da casualidade. Perguntou se não estaria nos contrafortes da demência. Mas se já nem a demência sabia o que seria, como medir resposta para a interrogação? Demoveu-se de procurar esclarecimentos para a revoada de interrogações que a esbombardavam. Se aquilo era o diabo, ele que fosse tendeiro à vontade.

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