6.8.12

O galo cosmético


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A pose garbosa do galo, na sua crista eriçada é a metáfora de uma idiossincrasia. Remete para o quotidiano do galinheiro. É lá, onde o galo é rei e os demais galináceos baixam a crista, que estão os rudimentos que se aparentam com povo: a grandiosidade herdada de um passado que se ensina nos bancos de escola, mas só um fausto de que sobram vestígios em forma de livro ou nas fortificações deixadas para trás na geografia por onde passaram os conquistadores. As criancinhas, essas, têm duas hipóteses: quando assentam os pés no chão e começam a ter pensamento próprio, processam os pedagogos por publicidade enganosa, ou mergulham numa depressão de quem se achou numa irrelevância que não quadra com os pergaminhos da história.
É como o galo que teima em ser estandarte da idiossincrasia. O bicho tutela o galinheiro. Fora dele, não vale um chavo. Se o galináceo garboso sai da capoeira, não tarda a ser acossado pelos da espécie poderosa. Pode esbracejar as asas, palrar esganiçado, ensaiar bicadas agressivas. Do pescoço estrafegado por uma cozinheira insensível não se salva. De que vale a pose majestosa, o harém que protege dentro da capoeira? A resposta virá, horas depois, na travessa que sair do forno e nos pratos dos convivas amesendados. O galo de pele tisnada e carne amaciada pela salmoura que lhe foi preparada não passa de ingrediente da digestão dos comensais.
O galo, coitado, é um postiço adereço. À imagem da idiossincrasia de que se julga ser seu pendão. É o triste fado de quem de si faz uma imagem maior. E se os dias são de olímpicos jogos, uma hipérbole traduz o irrisório galo que retrata uma idiossincrasia folclórica: em cem anos de jogos olímpicos metemos a mão em tantas medalhas quantas as açambarcadas por um só nadador multicampeão ao longo da sua carreira.

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