In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdcvLnS9IVTKIDAucqCcd0iQvpJmS9Ec9bgMIe1cCAshFbRmYreb5eI9XI9epmIWnuItVQv9fVZUnammFyBBwLYmCnXkb_bgPII6nNNmmZJp2qNhc76uE09WO8ZS9oUPh4DhrNOg/s1600/porco+capitalista.jpg
Ouvia o camarada Jerónimo a
catequizar as massas num mega-piquenique na mata da Manta Rota. (A jornalista
da TSF, herege, ainda foi a tempo de corrigir o nome do secretário-geral da
irmandade comunista, mas a boca ia-lhe fugindo para o inaceitável: “Jerónimo Martins, perdão, Jerónimo de Sousa”,
disse, meio atrapalhada.) Sem novidades, a oratória. Tiradas agressivas contra “o
governo de direita” e a troika que aterrou
para empenhar os pobres. Dados estatísticos com o número de empresas falidas
por causa da austeridade assassina, com o consequente cortejo de gente capaz a
engrossar o exército de desempregados. Mas os ricos cada vez mais ricos, as empresas
dos magnatas que se apropriam do suor dos trabalhadores, guardando a fatia de
leão da riqueza semeada pela força braçal dos trabalhadores.
Talvez adivinhando que a
jornalista da TSF ia confundir o seu nome com o da empresa do homem que passou
a ostentar a maior fortuna dos empresários cá da terra, o camarada Jerónimo
atirou-se furiosamente ao Pingo Doce pelo topete de abrir as portas com
descontos ilegais no sacrossanto dia em que se celebra a existência do
trabalhador. A multa (trinta mil euros), um insulto perante tanta abastança do
dono que passou a liderar o ranking mais
odioso na existência de um comunista: o da fortuna. Porque a fortuna é hedionda
– e ainda encontraremos, num dia que não andará longe no calendário, uma santa
aliança entre os camaradas que abominam a riqueza e os bispos e arcebispos que,
ó fraca memória, participam a imoralidade da abastança de um punhado de gente.
(Pois a fortuna só é moral quando a igreja se açambarca dela.)
E eu propunha um cenário
imaginário, apenas imaginário, mas que reproduzisse consequências na carne do
cidadão comum: que se extinguissem os ricos, os que ousam colocar empresas no
mapa da produção. E, de uma assentada, vermos o emprego a ser apenas uma
memória do passado. Às vezes, tenho a impressão que os camaradas que ainda suam
saudades da foice e do martelo hasteados na Moscovo de outrora não defendem
quem dizem defender.
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