In http://neosurrealismo.com/artworks/painting/1999/1999_dedoqueapontalua.jpg
Tira as pevides do melão antes
de o comeres. Olha que a pele do pêssego não é um pano de engomar ecrãs de
computador. Sossega, os pássaros cujo nome desconheces não te roubam a fatia de
courato pousada em cima do pão enquanto, com a mão sobrante, sorves ruidosamente
o copo de vinho corrente. Tens bom remédio para a diarreia: lava as mãos quando
vieres da oficina, lava-as sobretudo se fores à amesendação. Não enxotes a
culpa dos ombros onde ela deve repousar, deixa sossegados os ombros alheios. À
noite, não esperes claridade diurna. Nem em noites de potente luar. Achas que
os biscates são a fuga salvífica à longa mão do fisco e esgalhas gargalhadas
sonoras ao veres os laparotos que não conseguem fugir à alçada dos impostos. Tu
lá sabes quando te delicias com a mesma música ouvida pelos emigrantes em
visita estival – o que te diferencia na negação da estética? És tão voraz voyeur das vidas dos outros, que se te
incendeiam as veias quando lês umas frases mal cerzidas na imprensa da
especialidade. Depois, viciado na curiosidade, és refém das patranhas que te
pegam os que se empanturram com a venalidade tua (e dos teus semelhantes). Se
eles apontam ao céu, jurando que a lua está lá toda, gorda e reluzente, desvias
a atenção para o dedo. Vês como o dedo aponta e decretas pensamentos inanes
sobre o dedo emproado na direção do céu que brilha sob o efeito do luar. Às
tantas, consomes-te nos epitáfios de ninguém, tal como um pobre homem errante
que falha todas as estradas que importam, enquanto vagueia pelos atalhos enlameados
que desaguam sempre num beco de onde não há saída. Apraz saber que te enches de
contentamento interior, que és o tu próprio orgulho. E o que interessa se é por
defeito de lucidez, ou por convicção de que és de uma especialidade singular?
Sem comentários:
Enviar um comentário