22.8.13

O amor não proscrito


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Ou é da materialização dos costumes. Ou da propensão para não falar (nem escrever) de coisas amimadas. Ou porque o hedonismo foi herança para o presente e os desta gesta não têm paciência para as dores que às vezes vêm no regaço do amor. Ou, a vencer a tese do hedonismo dominante, o egoísmo enfraquece a predisposição para o voluntarismo de dar que é implícito no amor. Hoje toma lugar a vergonha do amor. Palavra impronunciável, sentimento clandestino. Os mais novos acham-no datado – e estão possuídos pela razão do efémero numa idade em que só o efémero conta. Os mais velhos, talvez apoquentados pelo desamor de outrora, desacreditam. E desdenham, em sinal de que não acreditam que voltarão a ser visitados pelo amor (e, num momento de ceticismo diletante, talvez se interrogam se alguma vez o foram).
O amor existe. Deve ser consagrado pela levitação a que transporta os corpos dos amantes, pelo pensamento cristalino que açambarca o horizonte diante dos olhos. E por isso o amor deve ser amado como sentimento nenhum consegue aclamar. Pois o amor encerra múltiplas facetas. O humor que espera nos momentos inesperados. Um olhar que mata a serventia das palavras, que nem poemas sublimes conseguem suplantar. A cumplicidade que aferroa os laços. Ou um dia insólito que termina com um ímpar conforto interior. As mãos que se entrelaçam, os afetos que se congeminam à lareira, enquanto o silêncio apascenta a quimera do momento. Os segredos que habilitam o uníssono tateado a dois. A alvorada macia que vem com um sussurro ao ouvido. A compreensão não indulgente quando um sobressalto abeira da apoplexia, ou uma palavra crítica quando a lucidez o impõe perante o desarranjo momentâneo do outro.
É saber dizer o que precisa de ser dito, não apenas quando as palavras podem ser agrestes (que é o mais fácil), mas quando elas rompem com a monotonia do tempo que vem atrás do tempo. O amor não é uma provação, nem convocatória de sacrifícios. É uma partilha. É um olhar deitado sobre o porvir sem receio dos contratempos que vierem de trás e da incógnita do tempo por fazer.
O amor é a reinvenção do tempo. Os amantes são os arquitetos com a empreitada de o reinventar.

1 comentário:

Museu Nacional de Soares dos Reis disse...

É possível que o amor exista e seja um sentimento vivo que se reinventa num tempo de "vidro honesto".