In http://comoviaja.com.br/wp-content/uploads/2012/04/portc3a3o-de-embarque-aeroporto-santos-dumont-rio-de-janeiro-foto-nathalia-molina.jpg?w=300
Uma terra qualquer, longe
daqui. Onde apenas vivem desconhecidos. O idioma lúgubre, como a paisagem se
parece aos olhos mal com ela entram em contacto. A partida fora necessária. À
míngua de oportunidades, emalados os pertences e as pernas rumaram à aventura
que sempre é o desconhecido. Seria poda de sociólogos estudar este paradoxo:
como voltamos a ser gesta de emigrantes em contramão com as levas de migrantes que
do estrangeiro nos procuram demandando oportunidades.
Os mais novos despedem-se da
família e dos amigos, dos consortes se os houver. Já não é emigração
clandestina, como dantes, quando as fronteiras eram obstáculo e eram passadas a
salto. Ou, quando a emigração não era clandestina, e os nómadas de então se
faziam à vida diferente a partir de uma gare ferroviária. Os novos emigrantes,
que ainda deambulam por uma juventude que seria desperdiçada se teimassem no
sedentarismo e vegetassem no desemprego, partem de avião. Despedem-se dos entes
queridos nos aeroportos, que são a aviltada imagem da injustiça de que se
sentem vítimas. O aeroporto é a porta de saída de uma terra que não os quis
compreender.
Mas eles partem na incógnita
das oportunidades que os possam esperar, para lugares onde elas fruem do nada. Se
deixam para trás uma terra que não os quis, por que hão de partir imersos em
prantos (a não ser pela solidão prometida e pela ausência dos entes queridos)?
Para onde vão, há de ser terra fértil. Não se escondem do marasmo de uma terra
carcomida, locupletada pelos mais velhos que não se desapegam do intransigente
egoísmo. À falta de sindicatos que defendam os mais desprotegidos – que
concluem estudos e esbarram no quixotesco desemprego – esta gesta, que parece
ter sido mal parida por uma mátria que acham ser sua, entrega-se a um exílio
voluntário.
Que enxuguem seus prantos,
contudo. Deixam uma terra madrasta. Para onde vão não pode ser pior. Nas léguas
de distância que os separam da terra madrasta, a nova terra que se fizer sua
casa será aluvião. É quando se estima que de grandes males irrompem luzidias janelas
que se entreabrem. Ao longe. Ao longe. Num aluvião qualquer.
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