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Ah, os poderosos que são um
fingimento de si mesmos! Vestem-se de vaidade e açambarcam-se da sobranceria
para logo ocuparem lugar altaneiro. Em pose altiva.
Desembaraçam-se das peias que
a idade moderna atravessa em seu caminho: a democracia e os preceitos da
igualdade não podem, ao menos na retórica, merecer perjúrio. Outra coisa é a
práxis. É aí que se desembaraçam das peias e vociferam sua iluminada razão na
exata proporção do lugar altaneiro, cada vez mais altaneiro, em que dizem medrar.
O respeito, de que se acham credores, é imperativo que vem dos pergaminhos. À
semelhança das tradições que, mandam os costumes, não se interrogam. A linhagem
seduz aprendizes, que depressa se alistam peões dispostos a defender a honra do
patrono. Alimentam-se uns dos outros. Os patronos, pois sem os vassalos seriam
dragões sem pedestal à mão de semear de quem os quisesse acossar. Os peões
defendem o suserano intelectual em troca de prebendas traduzidas em afluência
material.
Mas, ó lamento que desafias o
implícito consuetudinário, o respeitinho não é devido. O respeito é credor da
dignidade que pertence a cada um. É aí que termina. A história da espécie está,
para mal de si mesma, repleta de vacas sagradas. Prefiro chamar-lhes dragões.
Estão mais próximos dos mitos que os dragões são. E são, tal como a figura
mitológica, feéricos, investidos num poder sem mesuras, majestosas criaturas
que, só pelo pactuado magistério que deixam atrás de si, semeiam um respeito
que as convenções pontuam imaculado.
Quando perdem o verniz e
descem à terrena condição a que afinal pertencem, desnudados como nus andam os
mortais todos, atesta-se que são dragões inofensivos. Tão mortais como os mortais
que reclamam habitar em dimensão superior. Dragões com chama fátua. Ou eufemismo
amável para certificar que das suas ventas não sopra centelha que possa pôr em
respeito os tementes por dever.
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