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Na autoestrada dos corcéis, disputam
a primazia da adrenalina. Não se atemorizam com o precipício do acidente, sabem
que à tanta velocidade ele pode espreitar numa fenda da temeridade. É uma fúria
galopante, tragando os quilómetros sem saberem que destino a não ser a
estonteante celeridade. Chegam ao fim da autoestrada e devolvem o caminho.
Outro tanto de instantânea fugacidade, metem o pedal a fundo e vigiam o
velocímetro que se afunda no limite. Eles desafiam o limite. Comunicam-se
quando pressentem a presença cautelar da polícia. Contornam os limites da
velocidade como a mesma destreza que iludem os radares e as patrulhas da
brigada de trânsito.
Um dia, meteram-se à
autoestrada como se fosse uma pista de automóveis. Outra vez. Repetiram o
ritual, que para eles não era ritual. Era como se fosse uma droga dura, extrair
o que os tão potentes automóveis tinham para dar sob o comando do acelerador
intrépido. Dobravam os quilómetros em velocidade alucinante, quando no fio do
horizonte surgiu um pequeno carro que depressa, tanta era a pressa, ficou à
mercê dos cavaleiros da autoestrada. Não contavam que ali andasse alguém em
defeito de velocidade. Era uma senhora velhinha – souberam depois do acontecido
– já octogenária, com dois anos de carta de condução, imbatível na lentidão. A
senhora reclamou (mais tarde) que o vagar nunca fizera mal a ninguém, que o seu
remanso era caução de uma prudência que os jovens tresloucados não conheciam.
De tão díspares velocidades,
os cavaleiros do asfalto não travaram a tempo. Para não chocarem na velhinha em
defeito de velocidade, um espetou-se nos rails
centrais, outro saiu disparado às piruetas para a berma resvaladiça e os outros
dois abalroaram-se mutuamente. A velhinha, de tão atenta ao que ia à sua
frente, nem deu conta do acontecido. Tempos depois, um agente da brigada de
trânsito bateu à porta de sua casa. Estava intimada a comparecer em tribunal
daí a umas semanas. A senhora ficou aflita, não sabia que crime pudera ser o
seu. O agente esclareceu-a. As câmaras de vigilância da autoestrada
testemunharam que fora o seu defeito de velocidade a causar o acidente que
mandou os quatro potentes automóveis para a sucata e os seus ocupantes para
demoradas estadias em camas do hospital.
O zelo pelas regras não
compensara.
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