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No meio da floresta não são as
árvores viçosas que se distinguem. Uma simples árvore em decadência salta à
vista entre a paisagem uniforme. O busto carcomido, castanho mortiço, de uma
árvore despida de vegetação sinaliza a morte. E, todavia, ela mantém-se de pé,
resistente às intempéries que se põem sem aviso.
A madeira dura promete inércia por
muitos anos, mesmo que a seiva já não corra nos interstícios da árvore. As árvores
vizinhas amedrontam-se por a terem como exemplo do que serão quando a
senescência já não aguentar os últimos laivos de existência. Olham-na como
exemplo. Como uma matriarca que dita o respeito, mesmo tendo havido o
despedimento da vida. Quem visita a paisagem detém-se na árvore solitária que
determina a exceção. As mãos percorrem a rugosidade da sua pele,
impressionam-se com a dureza da madeira que não entrou em apodrecimento.
Perguntam, as mãos, quantos anos de vida teve a árvore. Sabem que dali não vem
resposta, nem que em fantasiosa elucubração as mãos julgassem ouvir uma árvore
vizinha, pujante no seu viço esverdeado, balbuciar número que rimasse com a
idade vivida pela árvore decessa.
As mãos enviam ao córtex central o
temor da decadência. Selam um ânimo que, porém, não se reproduz na espécie
humana. Os homens não morrem de pé, como dá às árvores que expiram mas teimam,
inteiras, a mostrar que perduram na memória de quem pertenceu à sua memória.
Desnuda-se a semelhança entre as árvores de uma floresta e as pessoas que estão
num grupo. Os mortais imortalizam-se nas memórias de quem as acha merecedoras. A
comparação finda por aí. A decadência física e o sono mental não deixam que os
mortais se imortalizem como se fossem estátuas. As árvores ficam a ganhar na
comparação. Ou talvez não.
Que serventia teriam cadáveres
transformados em estátuas? De resto, poucas são as árvores que perduram na sua
finitude. As árvores morrem de pé, diz-se. Até que venha um madeireiro ceifá-las
para matéria-prima. O povo, quando atesta que as árvores morrem de pé, só não
sabe dizer que essa é uma raridade.
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