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Petição de princípio de alguns (economistas e de muitos outros aprendizes
de o serem, que a economia atual, como o constitucionalismo, tem mais especialistas
do que leigos): os mercados, onde moram os credores do países endividados,
querem afogá-los na sua própria dívida pública. Sobem os juros consoante o
desequilíbrio do orçamento e o sobre-endividamento que se segue. Os mercados
agiotas querem lucrar com os países que se deitam a jeito da dívida que
contraem. Quanto mais deverem, maiores os lucros dos desapiedados credores. Até
porque estes fazem subir os juros quando o endividamento cresce além do (que
consideram) razoável.
Se calhar, a causalidade está mal contada. Ao contrário de uma certa “narrativa”
catastrófica, os países que se endividam não são obrigados a pedir dinheiro
emprestado. Vão aos mercados, batendo à porta dos possíveis credores, porque as
receitas que têm não chegam para as grandezas vertidas em despesas. O resultado
é um desequilíbrio do orçamento que cresce com a passagem do tempo e com a
persistência do fausto. E atrás de sucessivos desequilíbrios do orçamento
sobram necessidades de financiamento. É quando se bate à porta dos credores de
mão estendida. Para tapar buracos que, em certos lugares, são alimentados por
direitos e deveres afixados em constituições datadas.
E, se calhar também, a ordem dos fatores vem adulterada pela argumentação
conspirativa dos tutores da verdade insofismável que atiram “os mercados” para
o limbo dos malvados. É só ver os dados e entender quem avalia o risco (de não
pagamento) dos devedores. Quando um país consegue aliviar o desvario orçamental
e corrige o sobre-endividamento, os credores aplaudem. E mandam dizer que estão
dispostos a emprestar dinheiro mais barato. Quando este cenário fica montado,
os credores, esses agiotas incorrigíveis, sinalizam a sua vontade: estão dispostos
a ter menos lucro com o dinheiro que emprestarem àquele país.
Os tutores das escolas de pensamento económico alternativas ou estão a
atrair os seus seguidores para um engodo racional, decaindo em desonestidade
intelectual, ou não sabem ler os dados que gravitam à sua volta. Os mercados,
que acoitam os nefandos especuladores que enriquecem por meterem uma pistola à
cabeça de países fragilizados obrigando-os à dívida pública, afinal gostam de
países que se aproximem de contas públicas equilibradas.
E assim cai por terra
um dogma que as alternativas escolas de pensamento económico tomaram por
verdade insofismável.
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