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Os sonhos malquistos espalham
curvas sinuosas no sono. Podiam ficar no sótão do pensamento, naquele lugar
recôndito onde os sonhos não desassossegam o sono. Mas o pensamento não tem
freio, não somos seus domadores. As noites são uma demanda aleatória. Ficamos à
mercê dos sonhos e do que eles encomendam – espíritos malignos que importunam o
sono que se queria serenado, fantasmas que teimam em se pavonear no palco
sombrio onde apenas se vêm os vultos que os fantasmas são, ou matéria-prima
para sinais de surrealismo que apenas a alvorada do sono embaciado consegue
resolver.
Mas os sonhos maus têm
solução. Encontras ao teu lado quem os esconjura. Agarras-te como se fosse um
mastro que defenestra os convidados não convidados para os sonhos em
sobressalto. E os sonhos maus dissolvem-se numa poeira que se evapora mal os
olhos se desembaraçam do sono corrompido. Sabes que ao teu lado repousa um artesão
que amedronta os maus espíritos que acossam de todas as errâncias. Pronto para
uma alvorada temporã de exorcismo dos sonhos que tomam mão nas rédeas de um
sono apoquentado.
Mesmo ao teu lado, embebido
no seu sono amansado, deita-lhe a mão que os sonhos que não foram convidados são
escorraçados para outros lugares. Pois a sua pele é feita de um material que corrói
pelas entranhas os espíritos malsãos que interpretam os sonhos que são
desperdício do sono. Acorda-o, que os sonhos deixam de ser sonhos e o tempo de
sono que sobrar virá ungido pelo sono imperturbável de quem encomendou os
sonhos maus ao seu destino sepulcral. Só por estar ao teu lado, regaço a todo o
tempo onde se diluem as improfícuas sendas dos sonhos maus.
Noites assim são uma quimera
que deixou de ser sonho. Os corpos repousam na eternidade de noites que assim
são. Efémeros são os sonhos maus, condenados à sua própria senilidade pela
unção de quem se oferece teu regaço.
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