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Não sei o que me incomoda mais: se os
progressistas que não se cansam de inventar motivos para empurrarem a vanguarda
um pouco mais além, ou se soar a conservadorismo por argumentar contra esses
progressistas ávidos de vanguardismo.
Ontem soube-se que na Alemanha passou
a ser possível aos progenitores registarem a prole com sexo indiferenciado. E
eu, que juro a pés juntos que refuto tudo o que ressoe a conservadorismo, reviro-me
desde as entranhas a tentar entender este arrebatamento vanguardista. Portanto:
os médicos que estiverem num parto deverão ter o cuidado de não arriscar palavra
sobre o sexo do nascituro, não vão os progenitores protestar a sua indignação
por irem contra a sua vontade. Os médicos já não podem adivinhar que uma criança
nascida com um apêndice uns centímetros abaixo do umbigo possa ser um “menino”,
pois os que o pariram podem ter ideias diferentes.
É nesta altura que os iluminados que
inventam vanguardas artificiais puxão de um argumento que julgam irrebatível: a
decisão do sexo de alguém não pode ser prisioneira de um momento (o registo
civil depois de a mãe ter dado à luz) nem de um – por assim dizer – acidente da
natureza. Há meninos que depois querem ser meninas e o contrário também. Por
que se há de acorrentar o destino das crianças que o amanhã dará a conhecer se
elas podem querer um fado diferente daquele que a natureza ditou? Assim como
assim, a natureza pode ser ludibriada. Os pais só honram a liberdade de quem
pariram se lhe derem liberdade para escolherem quem são quanto ao género.
O que talvez estes pais arrivistas
não saibam é que puxam lustro a uma falsa liberdade. É só vermos as
possibilidades pelo prisma oposto ao que é entreaberto pela lei progressista.
Um rapaz que tenha nascido rapaz e seja registado como “indiferente”, mais
tarde terá um incómodo obrigatório (a alteração do género na identidade civil)
se quiser confirmar o que a natureza sancionou. E já que o “indiferenciado”, o
terceiro género que é mais um “não género” lavrado nos registos oficiais, é uma
alternativa à dicotomia feminino/masculino, um dia destes ninguém poderá fechar
a porta a um quarto género (nem menina, nem menino, mas também nada dessas
coisas vanguardistas como “indiferente”: uma outra coisa qualquer, a ser
definida quando apetecer). E por aí fora. Não são estes progressistas que
cultivam o relativismo? (Registo de interesses: também sou cultor do
relativismo.)
E adormeço irritado por me encostar
às cordas do conservadorismo ao não conseguir entender estas excitações
pós-pós-pós-modernas. Terão pensado nas consequências práticas do achado? Imponham-se
casas de banho que não sejam nem para homem nem para senhora. E no desporto,
onde competem os indiferenciados – ou haverá uma terceira competição a
distribuir medalhas pelos indiferenciados? As leis que ditam quotas em
homenagem à igualdade de sexos terão de abrir uma quota para os
indiferenciados?
E assim sucessivamente.
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