20.8.13

Tertium genus?


In http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6b/3D_gender_symbol.svg/220px-3D_gender_symbol.svg.png
Não sei o que me incomoda mais: se os progressistas que não se cansam de inventar motivos para empurrarem a vanguarda um pouco mais além, ou se soar a conservadorismo por argumentar contra esses progressistas ávidos de vanguardismo.
Ontem soube-se que na Alemanha passou a ser possível aos progenitores registarem a prole com sexo indiferenciado. E eu, que juro a pés juntos que refuto tudo o que ressoe a conservadorismo, reviro-me desde as entranhas a tentar entender este arrebatamento vanguardista. Portanto: os médicos que estiverem num parto deverão ter o cuidado de não arriscar palavra sobre o sexo do nascituro, não vão os progenitores protestar a sua indignação por irem contra a sua vontade. Os médicos já não podem adivinhar que uma criança nascida com um apêndice uns centímetros abaixo do umbigo possa ser um “menino”, pois os que o pariram podem ter ideias diferentes.
É nesta altura que os iluminados que inventam vanguardas artificiais puxão de um argumento que julgam irrebatível: a decisão do sexo de alguém não pode ser prisioneira de um momento (o registo civil depois de a mãe ter dado à luz) nem de um – por assim dizer – acidente da natureza. Há meninos que depois querem ser meninas e o contrário também. Por que se há de acorrentar o destino das crianças que o amanhã dará a conhecer se elas podem querer um fado diferente daquele que a natureza ditou? Assim como assim, a natureza pode ser ludibriada. Os pais só honram a liberdade de quem pariram se lhe derem liberdade para escolherem quem são quanto ao género.
O que talvez estes pais arrivistas não saibam é que puxam lustro a uma falsa liberdade. É só vermos as possibilidades pelo prisma oposto ao que é entreaberto pela lei progressista. Um rapaz que tenha nascido rapaz e seja registado como “indiferente”, mais tarde terá um incómodo obrigatório (a alteração do género na identidade civil) se quiser confirmar o que a natureza sancionou. E já que o “indiferenciado”, o terceiro género que é mais um “não género” lavrado nos registos oficiais, é uma alternativa à dicotomia feminino/masculino, um dia destes ninguém poderá fechar a porta a um quarto género (nem menina, nem menino, mas também nada dessas coisas vanguardistas como “indiferente”: uma outra coisa qualquer, a ser definida quando apetecer). E por aí fora. Não são estes progressistas que cultivam o relativismo? (Registo de interesses: também sou cultor do relativismo.)
E adormeço irritado por me encostar às cordas do conservadorismo ao não conseguir entender estas excitações pós-pós-pós-modernas. Terão pensado nas consequências práticas do achado? Imponham-se casas de banho que não sejam nem para homem nem para senhora. E no desporto, onde competem os indiferenciados – ou haverá uma terceira competição a distribuir medalhas pelos indiferenciados? As leis que ditam quotas em homenagem à igualdade de sexos terão de abrir uma quota para os indiferenciados?
E assim sucessivamente.

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