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Os rapazes
estavam reféns do tédio das férias grandes. Praia, já não queriam. Ler, não era
seu forte. A televisão passava sempre as mesmas coisas (apesar da constelação
de canais que dificultava a escolha). Os jogos de computador eram o mesmo
ramerrão. Saíam à noite, atingida a idade em que os progenitores caucionaram as
saídas noturnas.
Para quebrar a
monotonia, fizeram-se a atividades lúdicas que cortavam o sossego da madrugada.
Atividades, dir-se-ia, que não tinham o consentimento da moral social que, por
essas horas, hibernava em seu sono. Um dia, os rapazes percorreram ruas da
cidade em aleatória sinfonia nas campainhas dos prédios. Noutro dia, andaram
pelas ruas escaqueirando espelhos retrovisores de automóveis no descanso do estacionamento.
Depois foram a uma discoteca onde tinham tentado entrar uns dias antes. Podia
ser que o porteiro tivesse mudado, ou que, em sendo o mesmo, o estado de
espírito do porteiro houvesse mudado (para melhor). Queriam saciar-se na
vingança. Entrariam na discoteca e depressa iriam de abalada. Sem darem nas
vistas, pois uma estadia efémera podia levantar suspeitas e os porteiros das
discotecas têm boas relações no bas fond
da cidade, que por sua vez é vingativo e implacável. A partida era espalhar um gás
inodoro, que o irmão de um dos rapazes estouvados, estudante de química,
escondia no seu armário. O gás levaria toda aquela gente ao hospital, consumida
com a comichão causada por um agente irritante que faria toda a gente coçar-se
como se tivessem apanhado uma colónia de pulgas.
Ao quatro dia
ensandeceram. Foram para uma curva perigosa ao fim da avenida principal, uma
curva conhecida pelos muitos acidentes de quem não sabia lidar com o declive
invertido que atirava os condutores desprevenidos contra o muro de um
restaurante limítrofe. Não chegando o perigo inato da curva, os estroinas
espalharam no pavimento quatro garrafões de cinco litros de azeite.
Refugiaram-se no quarto andar esquerdo de um prédio devoluto e foram fazendo a
contabilidade dos condutores que escorregaram no asfalto que parecia uma pista
de patinagem no gelo. Excitados com as proezas das noites anteriores,
julgavam-se infalíveis. Enganaram-se. O guarda noturno do prédio abandonado deu
com eles enquanto a algazarra ecoava em sonoras gargalhadas. Chamou a polícia,
que prendeu os rapazes imprevidentes que ainda guardavam as provas que os
haveriam de incriminar (os garrafões vazios de azeite).
Ao
contrário dos jogos de computador, não era possível reiniciar a realidade nem
cada um deles tinha várias vidas para gastar.
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