In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpZ3uRbNpdcwP0um7rvm9FGFk4ic4KOKjTJTCCe6zBMXYs5nafzjfM82HnzuHc8FBEwNAglg3Bk6EHo1w4LaE8jLyAQ61vdSh6lB48bEmGM4GwYKanvyP7xbwnI8AsmrsxSubgHA/s320/vela.jpg
Ou é da materialização dos costumes. Ou da propensão para não falar (nem
escrever) de coisas amimadas. Ou porque o hedonismo foi herança para o presente
e os desta gesta não têm paciência para as dores que às vezes vêm no regaço do
amor. Ou, a vencer a tese do hedonismo dominante, o egoísmo enfraquece a
predisposição para o voluntarismo de dar que é implícito no amor. Hoje toma
lugar a vergonha do amor. Palavra impronunciável, sentimento clandestino. Os
mais novos acham-no datado – e estão possuídos pela razão do efémero numa idade
em que só o efémero conta. Os mais velhos, talvez apoquentados pelo desamor de
outrora, desacreditam. E desdenham, em sinal de que não acreditam que voltarão
a ser visitados pelo amor (e, num momento de ceticismo diletante, talvez se
interrogam se alguma vez o foram).
O
amor existe. Deve ser consagrado pela levitação a que transporta os corpos dos
amantes, pelo pensamento cristalino que açambarca o horizonte diante dos olhos.
E por isso o amor deve ser amado como sentimento nenhum consegue aclamar. Pois
o amor encerra múltiplas facetas. O humor que espera nos momentos inesperados.
Um olhar que mata a serventia das palavras, que nem poemas sublimes conseguem
suplantar. A cumplicidade que aferroa os laços. Ou um dia insólito que termina
com um ímpar conforto interior. As mãos que se entrelaçam, os afetos que se
congeminam à lareira, enquanto o silêncio apascenta a quimera do momento. Os
segredos que habilitam o uníssono tateado a dois. A alvorada macia que vem com
um sussurro ao ouvido. A compreensão não indulgente quando um sobressalto abeira
da apoplexia, ou uma palavra crítica quando a lucidez o impõe perante o
desarranjo momentâneo do outro.
É
saber dizer o que precisa de ser dito, não apenas quando as palavras podem ser
agrestes (que é o mais fácil), mas quando elas rompem com a monotonia do tempo
que vem atrás do tempo. O amor não é uma provação, nem convocatória de
sacrifícios. É uma partilha. É um olhar deitado sobre o porvir sem receio dos
contratempos que vierem de trás e da incógnita do tempo por fazer.
O
amor é a reinvenção do tempo. Os amantes são os arquitetos com a empreitada de
o reinventar.
1 comentário:
É possível que o amor exista e seja um sentimento vivo que se reinventa num tempo de "vidro honesto".
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