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Não sabia muito de flora, mas
o que sabia chegava para saber que havia ervas que tudo estragavam quando
alguém a elas se chegava. Eram ervas proscritas, tais os poderes destrutivos
que tinham. Convencionou chamar-lhes ervas azedas.
Não eram raras as vezes em
que se sentia erva azeda. Não era por maldade. Não era com o desejo de querer
destruir o que quer que fosse. Não o podiam julgar por ser mal intencionado, pois
as intenções eram ungidas pela bondade. Só que os resultados das ações eram o
contraste das intenções. Esboçava as coisas quase com a milimétrica precisão
que se obtém num estirador de arquiteto, mas as mãos embrulhavam-se, os pés
tropeçavam numa pedra perdida, as palavras saíam embotadas e as ações
conseguidas não quadravam com as intencionadas. Havia pessoas contristadas, sem
saberem que a ação, por vezes ofensiva, não ecoava nas intenções que a
antecediam. Mas nem tudo podia ser assim tão mau.
À medida que o tempo desfilava
na clepsidra, em contramão com o provável (pois o tempo aconselha a madurez,
que expurga a propensão para o desacerto), a erva azeda refinou. Não aprendia
com os erros que vinham de trás. Que eram pueris à medida que o tempo tinha a
sua medida. Estava nos antípodas da maturidade. As mãos tinham o condão de
azedar o que tocassem. Eram mãos desastradas, calosas sem o parecerem – como
azedas não parecem as ervas que, sabe-se depois, o são. Mas nem tudo podia ser
assim tão mau.
Um dia, arqueado pelo fado
que julgava irreparável medida do tempo gasto, encontrou alma amiga que o
afastou dos prantos interiores. Não tinham serventia, esses prantos, pois nem
tudo podia ser assim tão mau – disse-lhe a alma amiga. Ao escutar a frase, dita
com a mesma entoação com que a lia mentalmente quando se tentava convencer que
outro fado haveria para além de ser azeda erva, animou-se. A alma caridosa
preencheu o raciocínio com uma interrogação: e não há ervas que, de tão azedas,
coalham o leite numa gratificação da gastronomia que é o queijo?
Recuperou dos jardins da
memória os maiores atos desastrados em que, erva azeda, estivera metido. Não
fora por acaso. Nem tudo podia ser assim tão mau. Desde que se olhe de frente
para o que se é. Sem querer torcer o fado que não é seu.
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