Sisterhood,
“Rain From Heaven”, in https://www.youtube.com/watch?v=zzRw_DN0b4s
1. Os líderes mundiais em conclave. Negoceiam,
em concórdia que dá para desconfiar, o esvaziamento dos exércitos. Dois dias e
duas noites chegaram. Até ao fim do ano, os países vão ficar sem forças
armadas. Até os países párias assinaram o tratado. Para a comissão técnica que
começou a trabalhar no fim da cerimónia de assinatura do tratado ficam os
detalhes sobre o fado dos militares e a destruição dos arsenais. Os ativistas
habituados a pregar o ideal da paz ficaram descalços. Não acreditam nas intenções
lacradas no tratado. Ou não lhes convém acreditar: não foram só os exércitos a
sofrer esvaziamento; as causas destes ativistas também se eclipsaram. Teme-se
que, doravante, sejam os principais artífices dos antípodas da paz.
2.
Os patrões das grandes empresas meteram a mão
à consciência. No fim de uma reunião secreta numa estância de esqui na Áustria,
convocaram a imprensa e as televisões. Vieram dizer que se comprometiam a
distribuir metade dos lucros pelos trabalhadores. E a diminuir a jornada de
trabalho, dando uma mão aos que juraram guerra ao desemprego. Os sindicatos,
por sua vez, em vez de se alojarem na arrogância da vitória anunciaram um compromisso: deixariam de fazer política,
empenhando-se em colaborar com a função das empresas onde laboram os seus
representados.
3.
Os poetas, os grandes poetas da atualidade,
vão passar a ser ensinados na escola. Pela pedagogia da língua corretamente
escrita e falada. E, sobretudo, em homenagem ao uso criativo da língua.
4.
A corrupção foi banida. Duplamente banida.
Dos hábitos dos homens e das mulheres. E do vocabulário. Aos outrora
mancomunados com o deslustre, deu-se-lhes duas opções: a confissão, seguida de
arrependimento e de reposição retroativa dos despojos da corrupção, ou a cadeia
(em Évora).
5.
David Fonseca fez uma demorada introspeção.
Renegou toda a "obra". Apareceu em público a admitir que não é, nem
nunca foi, músico.
6.
A maldade foi extinta como código genético.
Numa súbita tempestade cerebral que tudo descompôs, para de seguida reerguer
das cinzas, deixou de haver maldade, agressões aos mais fracos, violência fosse
como fosse. Só havia risos sagazes admirados com a promessa do tempo vindouro.
As cores negras passaram a ser exclusivo das artes (e como sua expressão).
7.
Os homens e as mulheres assumiram as
responsabilidades. Assumiram o destino de cada um e de todos por junto. Sem
terem de se esconder em defenestrações divinas, em pretextos ancorados numa ação
que julgam ser-lhes superior. Numa exibição esplendorosa de antropocentrismo.
As religiões passaram a ser desnecessárias.
(Não
fosse hoje o primeiro de abril, jornada de consagração das mentiras que ninguém
leva a mal.)
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