Wild
Beasts, “Wunderlust”, in https://www.youtube.com/watch?v=9IIbbFIQTKI
Os antigos, que ensinam
ser um posto a antiguidade, cinzelam as leis de bronze. As mesmas que herdaram
dos antepassados e que reproduzem sem espírito crítico. Dá a impressão que os
tempos cristalizaram numa moldura encimada por uma espessa camada de poeira. E
tudo seria igual, como se fosse desmentido o viveiro de novidades que muda os
tempos, que ora os faz melhores, ora os piora (e isto sempre com a perspicaz
lente que varia de observador para observador).
As leis de bronze são a frontaria
da alergia à mudança. Dogmas. Não admitem questionamentos. Apostata-se quem
desafia as baias do conhecido, quem se não apraz com a matéria cimentada pelas
leis de bronze e, em desarmonia com a harmonia, dá alvíssaras a outros hereges
que bolçam contra a inércia das coisas. Pois as leis de bronze seguem hábitos
estabelecidos, acriticamente. Contentam-se com o menos, com a torpeza de fazer
de conta que as coisas não mudam só para não terem de lidar com as dores
interiores que vêm com o desarranjo das convenções. Uma acomodação que menoscaba.
As leis de bronze são
acerca do apoucamento da pessoa. Da sua colonização pelo pensamento adquirido,
insidiosamente convidando os contumazes a deixarem as dúvidas para matérias que
não sejam rombos nos lídimos estertores que vêm agrilhoados às leis de bronze.
Julgam, os seus continuadores, que as leis de bronze se autojustificam. Haverá
poucos atentados mais ultrajantes à autonomia das pessoas. Haverá dificuldade
em encontrar outra imagem que seja tão fielmente reprodutora da castração de
cada ser. Quando nos dizem para não incomodarmos as convenções, que arriscamos
a pôr de sobressalto as tranquilas almas habituadas ao que vem de trás,
praticam a lógica do “não, porque não”.
Não chega.
É quando mais apetece
desafiar as leis de bronze, pegar num cinzel e esfarelá-las, camada após
camada, até chegar ao seu âmago. Despir as leis de bronze da espuma frívola,
sem consubstanciação, e deixá-las nuas ao escrutínio de cada um. Para, ao
menos, admitir que os seus zeladores mantenham o papel em que foram adestrados e
admitir que haja quem se não reveja nessas leis de bronze e hipoteque a sua
validade (sem ser logo apostatado).
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