Sétima
Legião, “Pois que Deus assim o quis”, in https://www.youtube.com/watch?v=nI7lmfOeUlM
Por
ele, muitos tiram vidas. Muitos se abespinham quando o seu nome é invocado em vão.
Muitos se persignam, tementes a uma força superior. Outros descreem. E outros, ávidos
de uma explicação para a ordem das coisas, não se resignam perante a sua
desobediência divina e acreditam que uma centelha os há de colocar na senda de
deus.
E,
todavia, disputa-se a identidade de deus. Na sua imaterialidade – dir-se-ia –,
não quadra com a identificação, como se localiza a identidade de uma pessoa
comum. Na senda de um deus por ora desconhecido (e sem garantia que venha a perder
essa condição), não aceitava os dogmatismos vários que ensaiam a obediência a
deus. Ele julgava que deus podia ser diferente a diferentes olhares. Numa rara
epifania para um agnóstico, julgou que deus podia (ou devia) ser a personificação
de cada indivíduo. Seria como se as veias de cada um estivessem tomadas pelo
seu pessoal deus, uma imagem fiel da bondade que fermenta, em matéria potencial,
nas funduras de cada indivíduo. Contou a teoria em público. Julgaram-no herege,
uns; outros atiçaram-lhe a demência, pois só um insano podia desafiar as ideias
cosidas acerca da impersonalidade, da imaterialidade e da indivisibilidade de
deus.
Não
desistiu. Não aceitou que os outros impusessem a sua deificação. Para não
voltar ao início: à observação terrífica que deus, nas suas diferentes encarnações,
era fonte de cisões, um leito de violência soez, um amplexo de pensamento totalitário.
Um agnóstico ainda mais empedernido perguntou-lhe, importunado com a demanda,
por que artes se movia em tão metafísicos terrenos: “para um agnóstico, a
questão de deus não se coloca. Em não admitindo a sua existência, nem devemos
pronunciar o seu nome. É uma inexistência. Por que teimas em tão conturbada
demanda?” Supondo uma usurpação da sua liberdade de pensamento, não ensaiou
resposta. Tomou o interlocutor como gente da mesma igualha dos fanáticos das
religiões.
Ainda que deus
continuasse desconhecido, a dúvida metódica (talvez a verdadeira categoria
deificada) impedia o esgar monolítico do amigo que exacerbava no agnosticismo.
A única recusa era recusar as possibilidades. Todas. Até a de que houvesse um
deus algures, um deus de visitação futura (porventura). Um deus, por ora,
desconhecido.
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