In https://formaplural.files.wordpress.com/2011/12/toolbox.jpg
Sobre artes manuais,
bricolage e falta de destreza. Divergências com parafusos, martelos, chaves de
fendas e demais artefactos das artes manuais. Irremediável falta de jeito com
as mãos (a menos que). Nem sequer as ferramentas inventadas para facilitar os
artesãos. Perigosas armas nas mãos erradas, nas mãos que as não sabem manejar
sem arriscar feridas e contusões. Aparafusar uma cadeira de montar é um desafio
à paciência (e à lógica). As instruções profusamente desenhadas são um
almanaque de contradições. Se calhar, não são apenas as mãos a sofrerem de
falta de destreza.
Manda-se fazer aos
outros, os que nasceram com pergaminhos. Trabalhos até singelos, que um
adolescente capacitado faria sem tergiversar. Há quem diga que não é inépcia,
que é preguiça. Benevolente, a análise. Talvez sejam as duas ao mesmo tempo.
Faltando saber se a que mais se distingue é a preguiça ou a incompetência.
Também não interessa. As obras são um arte que as mãos destreinadas não
dominam. Um arte, por assim dizer, que é um corpo estranho.
Noto, às vezes, que olham
com estranheza, outras vezes com desdém, quando, nada mortificado, admito que
não consigo espetar um prego na parede, aparafusar um candeeiro no teto, pegar
na Black & Decker e domá-la. Também admito: nunca foi notório o esforço em
melhorar capacidades na função perante a visível inabilidade nas parcas
tentativas de lidar com a parafernália de ferramentas. Desisti cedo. Hoje digo:
talvez tenha sido oportunista. Pois esta não é arte que reúna as preferências
pessoais. Deixo-a aos outros. Aos profissionais e aos amadores que têm dotes de
profissionais.
Deixo-a, contudo, com
alguma inveja. É como olhar para uma tábua de queijos. A estética convoca os
sentidos, sobretudo o olhar, que não resiste à paleta admirável de uma tábula
de queijos. O mais importante dos sentidos (paladar) não se ativa, travando a consubstanciação
material do quadro magnífico diante dos olhos – ou de como existe uma fratura
entre o olhar e o paladar. Pois os queijos esbarram na adversidade do paladar. É
mais ou menos por esta lógica que tenho inveja (da saudável) dos mestres da
bricolage. (Ou quero-me convencer que tenho inveja, só para apaziguar a dissidência
com Black & Decker & Cia. e virar a página para o que interessa.)
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