8.12.17

Sem fio condutor (nó cego)

Ermo, “Ctrl+C Ctrl+V”, in https://www.youtube.com/watch?v=uhXmIjj-rIQ    
Não são as cores que devoram o apetite dos olhos. A silhueta sugestiva, talvez zeladora do desejo, cativa um módico do olhar. Lá dizem: os olhos comem, mas a barriga fica à míngua. Pode ser uma farsa. Pode ser apenas o produto de um sonho – fronteira frágil, a diferença entre o sonho sonhado e a matéria sensível colhida nos areópagos dizíveis. Os talentos naufragam: a putrefata igualdade assim impõe. Manda o sossego das almas que se não incomodem os viriatos da semântica bem-pensante. Não se deseja o incómodo degredo. A menos que o exílio, depressa sentenciado por outros, seja indiferente.
Vira-se a lua do avesso para confirmar a sua cor. Para confirmar se é alvura impressionante a luz de que é feita. Pode-se esperar, em tratando-se de um avesso, o contrário do que se espera: e em vez da alvura impecavelmente caiada, depois da ponta do véu levantada sobrarem trevas que não se recomendam. É o que se diz: a luz-ébano não é luz, e os movimentos culturais que consagraram o negro como cor e matriz estética não são confiáveis. O nó fica por desatar. Talvez seja cego, a preceito das trevas que estavam escondidas no avesso da lua.
Não se diga, nunca se diga, convincentemente, que é impoluto o caminho pretérito. E que ninguém jure o que seja dado a jurar se a medida do tempo por que se mede a jura for o porvir. Há revoluções por muito menos, mercadorias aparentemente inúteis que foram transacionadas por preços exorbitantes, almas despedaçadas nos despojos da noite apanhados do chão húmido, sangue vertido que podia continuar aforrado. É precaução criteriosa calcular as palavras, medi-las com a mais rigorosa fita métrica. Para não se cair no ardil da métrica das palavras usadas em descomeço. O rio macilento esconde nas suas visíveis funduras um nó cego. O nó dantes ignorado, quando era fértil o caudal.
Atiro à parede mais próxima os dados que dedilham o fado desalfandegado. Vê-se tudo no silêncio sepulcral que acompanha a coreografia das nuvens furtivas, um foro sem curador. Não se sabe se é a manhã que se insubordina, ou se é um amanhã que se promete, vazio como são os amanhãs em cascata.
No tirocínio dos astronautas sem céu, convocam-se as falésias onde se aprecia o desenho do mar. Talvez não seja má ideia desatar o nó, por mais que cego seja.

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