Einsturzende Neubauten, “Sonnenbarke”,
in https://www.youtube.com/watch?v=Uqb-pYz-oGY
Nós, no sindicato dos sonhos, sabemos
tudo de cor quando é preciso rasurar os demónios que possam entupir um sonho. É
nossa função emparedar, contra seus próprios tumultos, os vilões que desassossegam
sonhos justos. Como somos equânimes, não dissolvemos os sonhos de ninguém, nem quando
os sonhos não são matéria fluente.
O sindicato dos sonhos acautela o
direito aos sonhos. Ao sonho que tempera um sono aproveitado, ou ao sonho que
acompanha a lucidez de quem sonha enquanto permanece acordado. Pois os sonhos
contêm a matéria-prima que transforma a vida numa quimera. O sindicato dos
sonhos não acredita que as pessoas (na sua maioria) levem existências torturadas
e seja difícil segurarem os olhos no horizonte que têm por tela dominante. As
cores versáteis conferem utilidade ao mundo e às vidas. Há, porém, angústias
que tomam conta de gente desesperançada. Ainda não foi tirada conclusão sobre a
ordem dos fatores que explica a contrariedade: no sindicato dos sonhos, não
sabemos se são os sonhos empalidecidos, ou passados por sombras assustadoras,
que desviam essas pessoas de uma risonha existência; ou se a melancolia que as
abraça compõe o substrato dos sonhos opacos que as deixam perturbadas e
exangues ao cabo de um sono.
Empossado num otimismo deslumbrante, próprio
de quem protege os sonhos em profusa confluência, o sindicato dos sonhos dá
preferência aos sonhos com cores garridas, aos sonhos que atiram os seus
fautores para os braços de um lugar ideal, onde não há palavras contrafeitas e
os epílogos não se debatam com desilusão – os sonhos que podiam ser poemas se
fossem passados a escrito. Este não é o seu exclusivo compasso. O sindicato dos
sonhos não tolera discriminações. Não desprotege os sonhos medonhos, eufemismo
de pesadelos, que se debatem no mercado imenso dos sonhos. O sindicato dos
sonhos faz guerra sem quartel aos canalhas que tomam conta dos sonhos que não são
da sua autoria, aos insidiosos intrusos de sonhos alheios e que os adulteram.
Por via de dúvidas, foram constituídas
brigadas de intervenção rápida para afugentar os intrusos dos sonhos que não são
deles. Apesar de o sonho não ser um direito garantido pelas constituições dos
países. (Esse é um sonho que o sindicato dos sonhos tem como jura.)
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