Anemone, “The Brian Jonestown
Massacre” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=3BqRNSlTXsw
Talvez não se dê conta. E passe entre
os pingos da chuva. Mesmo tratando-se de coisa retumbante, abalo telúrico que
mexe com o estabelecido. Coisa suficiente para defenestrações. A menos que
sobre em adiamento o que campeia em despautério. E ainda nos querem convencer
sobre a idiotia da igualdade. Pois se são, quase sempre, os mandantes da
patranha da igualdade, seus diligentes ideólogos, que a desmentem quando o seu
antónimo traz proventos faustosos.
O mal, é que os tubarões são ardilosos.
Não nadam à superfície, para não serem apanhados em transgressão – para que não
os vejam como ameaça às pálidas ideias de que são um pilar. Os tubarões
disfarçam-se de ursinhos de peluche, querem-se adorados pela turba. Querem reconhecimento
da turba, para estarem acima de suspeitas. Facilita-se-lhes o delinquir: são os
últimos de quem se espera uma suspeita, pois não se acredita que andem a pregar
palavras de que são máximos dissidentes. Por isso, os tubarões submergem nas águas
profundas, nas águas turvas. Onde nada passa pelo crivo do olhar conspícuo. Onde
a trapaça tem salvo-conduto, por ninguém a reconhecer como trapaça.
Quando são apanhados em falso – uma raridade
– os tubarões mostram os dentes. São mastins ameaçadores, para reposição do
estatuto que souberam hastear. Usam os pergaminhos em sua defesa. Mostram as
medalhas pespegadas à lapela, ostentam-nas como garantia de seriedade. Ai de quem
tenha o topete de bulir com a senatorial condição, misturando-os no redil onde habitam
criminosos de curta jaez. Melhor admissão não lhes ficaria no cadastro: era o
que mais faltava serem apanhados na mesma maré dos reles criminosos; a sua arte,
é de calibre superior. Até para atraiçoarem os pergaminhos de que foram zelosos
vigilantes por temporadas a fio.
Os tubarões que dão à costa não mostram
a carnuda cauda à superfície. Mordem pela calada. As vítimas nem esboçam reação.
Atacam sem pré-aviso, para não darem o flanco. Vão dissimulados à costa
abocanhar mais um par de presas e zarpam, céleres e covardes, para águas
profundas. Com a promessa de voltarem, sem pré-aviso, sem mostrarem sequer a
carnuda cauda ameaçadora.
Às vezes – raramente – são atraiçoados
pela usura. Calculam mal a hora da maré-baixa e ficam presos nos baixios. É a vez
dos descamisados protestarem “tubarão à
costa”. É uma caça sem quartel – até pelos que vieram dantes beber à mão
dos falsários tubarões.
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