My Bloody Valentine, “Sometimes”,
in https://www.youtube.com/watch?v=1c8Selr9Aec
Termos em que a barbárie não pode ter
vindicação, sob pena de acabarmos com a civilização (pelo menos, como a
conhecemos). Os homens que se entendam, ou os termos da resolução deste
contrato não afastam a possibilidade de caos. Os homens são lúcidos. As divergências
não são o veneno fatal do desentendimento. Que se mantenham as divergências;
mal do mundo se elas não existissem, pois corríamos o risco da indiferença
entre uns e os outros. Não podem as divergências, contudo, medrar na intolerância.
Não podem ser o frémito que, avassalador, cavalga às costas do adversário,
depressa feito inimigo. Que os homens se mentalizem: quem assim se comporta não
tem noção das medidas e age em perfeita desarmonia com a proporcionalidade.
Talvez os homens não sejam de cepa de
forma a tolerarem que haja outros diferentes de si. Talvez o acordo de
cavalheiros, nestes termos, devesse contemplar o hermetismo dos grupos. Grupos
indiferentes mutuamente. O critério para não sermos reféns do cataclismo das
divergências insuportáveis. Os homens que não sejam eremitas. Aprendam uns com
os outros. Aprendam com o que as diferenças lhes podem ensinar, usando o raciocínio
flexível para não fechar as gavetas onde se alojam os outros. Neste acordo de
cavalheiros, ninguém tem de mudar. Ninguém tem de prometer ser diferente
daquilo que é. A ninguém deve ser dobrado o braço, em forçosa capitulação que
coincide com o ostensivo triunfalismo dos vencedores.
No acordo de cavalheiros ninguém perde
e, contudo, todos ganham. É através do acordo de cavalheiros que os homens
admitem que o mesmo o sangue circula nas suas veias. Que o pensamento obedece a
uma mesma matriz estrutural. E que idiossincrasias estultas não esbatem um
património comum. No acordo de cavalheiros não se obliteram as diferenças. Elas
são sublimadas através do rufar dos tambores que anuncia um princípio geral de
tolerância, no irrecusável alfobre das diferenças. Pois neste acordo de
cavalheiros ninguém intui ganhar vantagem às costas de outro, dele precisando
como hospedeiro de um triunfo que equivale à sua humilhação.
Que se convençam os homens da
vivacidade do acordo de cavalheiros. Que sejam cavalheiros – ou qualquer outro étimo,
sinónimo ou não (que interessa a semântica?), que traga os homens para o pináculo
da sua humanidade.
Sim: acordo de cavalheiros, porque não
custa orquestrar utopias.
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