Craig Armstrong ft.
Elizabeth Fraser, “This Love”, in https://www.youtube.com/watch?v=URvC-7lcrvI
Não diremos nada sobre os segredos. Pois
os segredos são um património que escondemos dentro do peito que os viu nascer.
São indestrutíveis, uma fortaleza. Compomos sob o sol gentil, à entrada da
primavera, as estrofes em osmose completa. Somos testemunhas do entardecer e de
como, se quisermos, retemos nas mãos aquele instante, adiando o ocaso. Não que
tenhamos medo da noite. Não que sejamos reféns de vultos disfarçados de nada
que atacam sob o pretexto na noite. Dos altos impérios de que somos curadores,
não temos medo.
Subimos do mar ao mais alto promontório
só para sabermos tudo o que conquistamos. Pomos a pose sobranceira, mas só
sobranceira para nós: apraz a ideia do tanto que foi sulcado, das intempéries
derrotadas, dos sobressaltados aplacados. Esse é um dos nossos impérios. Temos outros.
Uns confessáveis, outros não – a não ser na frágil confissão da sua existência.
Esses impérios, protegidos do lado oculto da cortina, fazem parte dos segredos
que são só nossos. É o máximo que podemos contar. O que não é de somenos importância.
Damos conta de sermos imperadores e
ostentamos as insígnias próprias dos imperadores. Suseranos máximos do sangue
fervente que corre nas veias. Domadores dos rios fluentes que têm caudal
desenhado pelas nossas mãos, dos rios que traduzem a fortuna do inverno: provêm
do degelo, trazem até aos vales a prova das neves inacessíveis. Quando corremos
contra a paisagem, os olhos vêm desfilar as montanhas e os vales sucessivos. Sentimos
a riqueza incomensurável das cores acobreadas das árvores tingidas pelo outono.
Temos a sensação que os olhos afeiçoam a paisagem que vai aparecendo sob a nossa
indulgência. Até o mar, a fatia de leão do planeta, parece moldado com os
gestos que emprestamos ao corpo – ora sucedâneo de bonança, ora fautor de
iracundas convulsões que acordam soporíferos dias sem préstimo.
Dos nossos impérios também faz parte
lua farta, que vem caiar o céu com o beneplácito de que somos maestros. A lua
que arrefece os excessos do estio que parece não ter um fim. Somos tutores de toda
a música que consagramos, da poesia dita ao anoitecer, das ideias que trocamos à
saída do teatro, dos planos atirados para cima do estirador, do desejo que não
arrefece, dos volteios da alma que se amparam na alma outra, de todas as
congeminações de que somos coautores, e das outras que são ideias
arregimentadas à espera do sentir do outro. Tudo impérios – dos dizíveis.
Exclusivamente nossos. Nossos.
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