13.12.17

Tubarão à costa


Anemone, “The Brian Jonestown Massacre” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=3BqRNSlTXsw    
Talvez não se dê conta. E passe entre os pingos da chuva. Mesmo tratando-se de coisa retumbante, abalo telúrico que mexe com o estabelecido. Coisa suficiente para defenestrações. A menos que sobre em adiamento o que campeia em despautério. E ainda nos querem convencer sobre a idiotia da igualdade. Pois se são, quase sempre, os mandantes da patranha da igualdade, seus diligentes ideólogos, que a desmentem quando o seu antónimo traz proventos faustosos.
O mal, é que os tubarões são ardilosos. Não nadam à superfície, para não serem apanhados em transgressão – para que não os vejam como ameaça às pálidas ideias de que são um pilar. Os tubarões disfarçam-se de ursinhos de peluche, querem-se adorados pela turba. Querem reconhecimento da turba, para estarem acima de suspeitas. Facilita-se-lhes o delinquir: são os últimos de quem se espera uma suspeita, pois não se acredita que andem a pregar palavras de que são máximos dissidentes. Por isso, os tubarões submergem nas águas profundas, nas águas turvas. Onde nada passa pelo crivo do olhar conspícuo. Onde a trapaça tem salvo-conduto, por ninguém a reconhecer como trapaça.
Quando são apanhados em falso – uma raridade – os tubarões mostram os dentes. São mastins ameaçadores, para reposição do estatuto que souberam hastear. Usam os pergaminhos em sua defesa. Mostram as medalhas pespegadas à lapela, ostentam-nas como garantia de seriedade. Ai de quem tenha o topete de bulir com a senatorial condição, misturando-os no redil onde habitam criminosos de curta jaez. Melhor admissão não lhes ficaria no cadastro: era o que mais faltava serem apanhados na mesma maré dos reles criminosos; a sua arte, é de calibre superior. Até para atraiçoarem os pergaminhos de que foram zelosos vigilantes por temporadas a fio.
Os tubarões que dão à costa não mostram a carnuda cauda à superfície. Mordem pela calada. As vítimas nem esboçam reação. Atacam sem pré-aviso, para não darem o flanco. Vão dissimulados à costa abocanhar mais um par de presas e zarpam, céleres e covardes, para águas profundas. Com a promessa de voltarem, sem pré-aviso, sem mostrarem sequer a carnuda cauda ameaçadora.
Às vezes – raramente – são atraiçoados pela usura. Calculam mal a hora da maré-baixa e ficam presos nos baixios. É a vez dos descamisados protestarem “tubarão à costa”. É uma caça sem quartel – até pelos que vieram dantes beber à mão dos falsários tubarões.

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