Passou um mês sobre a morte do líder do Hamas, o sheik Yassin. Quem lhe sucedeu no cargo não aqueceu o lugar. Mais um raid cirúrgico das tropas de Israel, mais um míssil lançado com uma precisão milimétrica, e desta vez foi Al Rantissi que deixou de dar ordens para atentados terroristas. É caso para perguntar: quem se chega à frente para ser o próximo líder do Hamas? Por outras palavras, quem é se predispõe a servir de alvo para os mísseis disparados pelos helicópteros israelitas?
Os radicais palestinos não são flor que se cheire. A violência que espalham é do mais tenebroso que pode existir. Mas o que dizer das reacções de Israel? O que dizer quando não se trata de uma reacção, de uma retaliação a um ataque suicida que levou a vida de inúmeros israelitas?
Para os que condescendem com o terrorismo de Estado das autoridades israelitas, havia sempre a desculpa de que as tropas de Israel se limitavam a responder aos ataques terroristas. O míssil disparado no sábado não se encaixa neste pretexto. Porque desde a morte de Yassin ainda não houve ataques terroristas a Israel. Anteontem Israel não atacou em legítima defesa. Atacou por atacar, quem sabe se por precaução (parta evitar futuros episódios de terror instigados pelo líder do Hamas que foi morto).
Se Israel se auto-intitula um “Estado de direito”, pode enveredar pelas mesmas práticas dos seus inimigos, elas mesmas negadoras da essência do Estado de direito? Com esta lógica do “olho por olho, dente por dente”, alimentada pelas autoridades de Israel, conseguem-se elas distinguir dos radicais palestinos? Para ambas as perguntas, a resposta é um não sem tibiezas.
São estas as razões que me intrigam na reacção bélica do governo israelita. Estão à espera que esta política de extermínio selectivo venha abafar os focos de violência que pesam sobre a cabeça de tantos israelitas? Acreditam que a degola das lideranças do Hamas tenha um efeito de apaziguamento entre as franjas palestinas que destilam mais ódio em relação aos judeus? Ninguém, desapaixonado e com lucidez, poderá dar resposta afirmativa a estas questões. Neste conflito estúpido, vejo a actuação do governo de Israel como o manancial de insensatez que alimenta ainda mais a espiral de violência. Israel tem um barril de pólvora mesmo à sua porta, pronto a rebentar. Em vez de o afastar para longe, é Israel que para lá atira um cigarro ainda incandescente, provocando a detonação do barril.
Vendo bem as coisas, se calhar as autoridades de Israel estão a seguir a política acertada. Um após outro, os líderes do Hamas vão perdendo a vida nos estilhaços dos mísseis disparados pelas tropas israelitas. Eis a solução fácil para pôr um fim ao conflito: basta ir matando todos os palestinos que forem vozes inflamadas do ódio contra os judeus. Nessa altura, com os palestinos varridos do mapa, finalmente a concórdia estará instalada no Médio Oriente. Só com judeus, mas finalmente a concórdia.
Resta recordar que esta “solução final” não anda muito longe da preconizada há meio século pelos nazis, de que os judeus foram vítimas. Vítimas ontem, carrascos hoje? O que se segue? Um raid aéreo até à Síria, onde está escondido um dos líderes espirituais do Hamas? Ainda que aí, sem quaisquer dúvidas, o direito internacional seja espezinhado?
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