O meu amigo Miguel Sousa (nome artístico: “Ponte Vasco da Gama”) comentou o artigo de ontem sobre a abstenção. Nestes termos:
“E como se faz uma investigação séria sobre o significado da abstenção? Questionam-se directamente os milhões de potenciais eleitores que não foram votar? Por amostragem? Baseadas em quê? É utópico. Nunca conseguiremos concluir nada. Lá está o problema: Se não for através da expressão do voto (seja branco, nulo ou num partido), o actual sistema, apesar de muito imperfeito, ainda não tem substituto à altura, ou melhor.
Um abraço!"
Como se faz uma investigação séria? Há métodos estudados pelas ciências sociais. Claro que teríamos que conceber de uma amostra representativa. Ela teria que ser a mais alargada possível (o que, logo à partida, é subjectivo, bem sei). E pelo facto de ser uma amostragem também incorria em resultados que se poderiam deslocar da realidade. Seja como for, seria importante que alguém tratasse a abstenção com mais…“dignidade”. O que não posso aceitar é a interpretação leviana que se costuma dar ao significado da abstenção e aos abstencionistas. Não que me importe com o que os outros pensam acerca do que eu faço ou deixo de fazer. Apenas me dói saber que há interpretações que são erradas, que estão bem longe de corresponder à realidade.
Outra possibilidade seria obrigar as pessoas a votar. A abstenção seria punida com multa – e uma multa elevada, para desincentivar a abstenção. Este sistema existe (que eu conheça) na Bélgica e na Austrália. Sou totalmente contra este método, pelo que ele tem de impositivo. É um método que me repugna por atentar contra a liberdade individual, contra a livre escolha que apenas compete a cada indivíduo.
Mas, e apenas por hipótese, vamos imaginar que era este o regime que passava a existir no país. Aí seria interessante verificar qual a conversão de abstencionistas em votos em branco e em votos nulos. Quanto maior fosse o aumento percentual de votos nulos e brancos, maior seria a evidência de que os actuais abstencionistas não se abstêm por desinteresse, irresponsabilidade ou pura preguiça. Seria então sinal de que algo vai mal com o regime político e com o sistema de representação.
Qual é a alternativa? Confesso que não a tenho. Só sei que estou insatisfeito com o sistema que nos rege. E que uma forma de mostrar esta insatisfação é a recusa em depositar o meu voto. Esta é uma manifestação niilista, pouco construtiva? Talvez seja. Mas um comportamento nada construtivo também tem algumas virtudes. Obriga a reflectir sobre os problemas, a ponderar no que está mal e como pode ser corrigido – sem que este niilismo exija a inevitável diluição do regime contestado.
No fundo, esta postura “destrutiva” pode funcionar como uma aguda consciência crítica que exibe um permanente desassossego com as soluções que damos como adquiridas que são as melhores que existem. Estando longe da perfeição, consideramo-las as melhores por não terem rivais à altura. Sinceramente acho que esta é uma manifestação de conformismo que é a principal culpada pela perda de qualidade da democracia em que vivemos (no ocidente em geral, não apenas em Portugal).
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