Não tem sido pacífico o encerramento da fábrica da Bombardier na Amadora. Como não é nenhum episódio em que uma empresa fecha as portas. Mais ainda quando estamos em presença das “abomináveis” multinacionais, esses expoentes máximos do impiedoso neo-liberalismo que não pára de aleijar os direitos dos trabalhadores espalhados pelos quatro cantos do mundo. (Claro que a derradeira frase está carregada de sentido metafórico…)
No meio deste processo conturbado, o folclore do costume quando os sindicatos e os direitos dos trabalhadores são atirados para cima da mesa. Que a comunicação social continue enfeudada no discurso carregado de carga emotiva que é difundido pelos sindicatos, é coisa natural. O que me traz surpresa são algumas das atitudes dos representantes dos trabalhadores. Para começar, não consigo compreender a cegueira que os invade quando exigem do Estado português uma solução para este problema. Do que estão à espera? Que o governo decrete a nacionalização da Bombardier, com o objectivo de salvar os empregos ameaçados? Será esta a missão de um Estado, numa economia de livre iniciativa, agora que o século XXI já está em pleno vigor? Estarão estas almas paradas no tempo, como se fosse possível regressar aos saudosos tempos do pós 25 de Abril de 1974, com a ilegítima onda de nacionalizações que varreu o país e que ameaçou aniquilar a economia nacional?
Mais incompreensível ainda é a reacção do sindicato que comanda os trabalhadores da Bombardier. Ao longo de toda a semana que está a findar, decidiram fazer greve durante a tarde. Eis a pior forma de resolver o impasse em que estão colocados. Pergunto-me qual o objectivo útil desta greve: pressionar a Bombardier a voltar com os seus planos atrás e, deitando a mão à consciência, afinal ficar em Portugal? Será com esta paralisação (metade de um dia de trabalho, cinco dias de uma semana) que os trabalhadores estão a contribuir para que a Bombardier se arrependa de encerrar as instalações da Amadora?
Se existe algum efeito útil, é justamente o contrário do pretendido pelos trabalhadores. Basta assumir a posição de um “pérfido capitalista” encarregue de gerir os destinos da Bombardier. Com esta posição nada construtiva dos trabalhadores, não restavam dúvidas do caminho a seguir. No fim de contas, esta greve apenas vem confirmar que os canadianos estão certos quando decidiram encerrar as suas instalações portuguesas.
O episódio demonstra com clareza como tantas vezes a acção dos sindicatos é contra-producente. As reacções desabridas não convidam à conciliação das posições desavindas entre empresa e trabalhadores. E o emprego acaba por ser perder definitivamente.
Aceito que, na maior parte das vezes, a decisão da empresa está tomada de antemão. E que não será uma postura mais construtiva dos sindicatos que fará alterar as ideias de retirada por parte de quem detém a empresa. Mas estes exemplos produzem as suas consequências para o futuro. Há um cadastro sindical que perpassa para o exterior. Num tempo em que é tão importante captar investimento estrangeiro (quanto mais não seja pela criação de emprego que ele suscita), manter sindicatos tão politizados e desfasados do que realmente são os interesses de quem quer trabalhar apenas contribui para afastar esses investimentos para paragens alternativas.
Quem disse que os sindicatos existem para defender os interesses dos trabalhadores?
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