18.8.04

Correio em dia (III)


1. O Carter comentou o meu texto sobre os cortejos sexuais dos homossexuais em Fátima. Devo dizer, a abrir, duas coisas importantes: sou ateu, profundamente ateu; e já mostrei em escritos anteriores como defendo os mesmos direitos para os homossexuais e para os heterossexuais.

Dito isto, estranho que o Carter, enquanto leitor assíduo dos meus textos (o que me deixa envaidecido) não se tenha lembrado destes dois aspectos importantes antes de ter escrito o seu comentário. O que me interessa realçar é a necessidade de respeito recíproco. Quem não se dá ao respeito não pode esperar respeito por parte dos outros. Nem sequer ser reconhecido como um entre iguais, quando a provocação é aviltante para um esteio da sociedade portuguesa (ainda que, em termos pessoais, não esteja de acordo que esse seja um esteio). Relembro, sou inteiramente ateu, o que não me impede de respeitar as convicções de quem professa qualquer fé, seja ela qual for, sem discriminações. É isso que me leva à crítica do roteiro sexual por locais que são sagrados para quem acredita no catolicismo. Acredito que o Carter não aceitaria que alguém (homo, hetero ou bissexual, não interessa) “desse uma queca” em sua casa, sem o seu consentimento e conhecimento. Não teria um certo trago a “profanação pessoal”, este cenário hipotético?

2. O Ponte Vasco da Gama fez comentários em relação aos textos sobre a estupidificação humana e o império da imagem entre os políticos. Gostei do que li. Convergimos numa repulsa em relação à classe política (talvez a diferença seja o meu radicalismo: não vejo onde estão as tais “honrosas excepções”). No fundo, estás de acordo comigo ao destruir a aura negativa que paira sobre os programas de e para palermóides (a que se convencionou chamar “telelixo”). São genuínos, diferentes do que se passa no ar pestilento que se solta dos locais frequentados pela classe política, tão ávida em transmitir uma imagem de credibilidade, mas que tão depressa resvala para uma palhaçada que não tem rival – nem sequer pela pretensa estupidificação humana dos tais programas em que reinam as figuras tristes dos participantes.

Sim, a mediocridade exulta entre a classe política. Parece um ninho onde apenas têm lugar os menos preparados, os que nada mais sabem fazer do que se acolher nas asas protectores da partidarite cega. É o nivelamento por baixo, o sintoma da crise que infecta o regime. Por um dia, Ponte Vasco da Gama, terias que partilhar o meu cepticismo militante!

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim, estou um pouco (ou bastante) ceptico em relação à nossa classe política. A nossa diferença é que teimo em acreditar, talvez inocentemente, que um dia as coisas vão mudar. Um dia "ser político" em Portugal poderá ser algo que atraia os competentes. Já reparaste como é difícil hoje a um 1º ministro arranjar ministros em Portugal? Pudera... e não é só porque o que se ganha como vencimento é baixo em relação ao que se pode ganhar numa empresa privada. Ser governante hoje em dia é uma espécie de ida para a casa do big brother: não se faz nada e tudo pode ser exposto.
Mas acredito que chegará o dia em que a nossa classe política terá outro nível. Enfim, é uma questão de sobrevivência para mim. Se não acreditar os meus dias tornam-se muito difíceis.

Ponte Vasco da Gama