Todos temos as nossas manias? Excêntricas ou suaves – alguém pode dizer que não tem o seu rol de manias, aquelas pequenas ou grandes coisas que fogem da bitola da “normalidade”? Há manias e manias. Umas doentias, outras que não fazem mal à sanidade mental. As manias de uns são excentricidades ou coisas incompreensíveis para os demais, quando as manias dos últimos podem ser bizarras para os primeiros. Nisto das manias, a melhor atitude é ser tolerante. Ou estamos a enveredar por um caminho perigoso, o de permitirmos que os outros zombem das nossas próprias manias, como se elas fossem mais tresloucadas do que as manias de quem nos ajuíza.
Uma das manias que tenho é a de ser incapaz de ver filmes em que os animais tenham um certo protagonismo que os faz ultrapassar a dimensão de meros figurantes, assumindo-se como actores de corpo próprio. Há sempre uma dimensão dramática que não consigo suportar. Invariavelmente, os filmes retratam a saga de um animal. A história começa bem, descamba para o dramatismo, com o animal a correr risco de vida, a padecer de sofrimento, a ser assaltado por uma onda de tristeza. Estes sentimentos negativos invadem-me de tal forma que não consigo conter uma lágrima furtiva.
Mas depois o filme acaba sempre bem. O animal deixa de sofrer e volta ao remanso do lar, para junto dos seus donos, reencontrando-se com a felicidade. O sofrimento infligido ao espectador é compensado pelo desfecho que acorrenta a bonança ao epílogo da história. As pessoas mais sensíveis, aquelas que não conseguem disfarçar a emoção nas cenas em que o animal estava a sofrer, ficam com a alma apaziguada ao saberem que tudo acabou em bem.
A minha mania consiste em não conseguir ver estes filmes. Aliás tenho que admitir que o estereótipo não me faz espectador assíduo do género cinematográfico, porque a qualidade não é o seu traço distintivo. Esta mania vem a propósito porque há dias passava na televisão um destes filmes e aqui em casa o canal continuava teimosamente sintonizado no filme. Foi aí que recordei como em pequeno me mortificava sempre que assistia a um filme deste género. Fugi do ecrã a sete pernas, refugiei-me num momento de leitura. Curiosamente, à medida que os olhos passavam pelas palavras, à medida que ia dedilhando as páginas, sentia que era uma leitura ausente. Era incapaz de recordar o que tinha acabado de ler há uns escassos momentos, porque a cabeça continuava ocupada pela mania que me faz fugir dos filmes onde os animais têm algum protagonismo.
Chegado a este ponto, uma revelação pouco simpática (sobretudo para os que têm um pendor mais humanista): sou capaz de ver filmes onde se simula o sofrimento humano, com as doses industriais de violência que retratam, afinal, o mundo violento em que vivemos. Sou insensível à ilustração do sofrimento humano e não consigo ter a mesma reacção quando as imagens retratam o sofrimento de animais (seja em filmes, em documentários sobre a vida animal, ou até em reportagens que noticiam maus tratos em animais).
Há uma explicação para este desequilíbrio? Só encontro uma: o ser humano é prisioneiro da sua pretensa superioridade enquanto espécie. De tanto o Homem puxar os galões como a única espécie animal dotada de racionalidade, tantas vezes ele tem resvalado para a violência que raia a ignomínia. É um lugar-comum dizer que o ser humano é a maior ameaça à espécie, com o historial interminável de guerras e de violência que o levam a sacrificar os seus pares. A racionalidade como fundamento da superioridade humana é a armadilha que leva o Homem para o descaminho da insensatez. Já os animais, destituídos dessa racionalidade, encontram-se mais expostos. São criaturas mais frágeis, indefesas, tantas vezes martirizadas pela estupidez humana. Que, não satisfeita pela orgia de violência e de sofrimento que insiste em praticar sobre si mesmo, a prolonga para criaturas mais fracas.
Estes filmes, todas as imagens que expõem a debilidade de animais, são a reincidência da insensibilidade humana. Espelham a essência do espírito animalesco que faz do Homem a celebração de uma espécie que se abastarda. Retratar o sofrimento de animais é o braço prolongado da essência humana de crucificação, da necessidade de encontrar o sofrimento para se exporem fraquezas e fortalezas que contrastam. Como se fosse necessário partir ao encontro do bem-estar através da redenção do sofrimento.
Réstias de uma religiosidade sempre latente no ser humano.
Uma das manias que tenho é a de ser incapaz de ver filmes em que os animais tenham um certo protagonismo que os faz ultrapassar a dimensão de meros figurantes, assumindo-se como actores de corpo próprio. Há sempre uma dimensão dramática que não consigo suportar. Invariavelmente, os filmes retratam a saga de um animal. A história começa bem, descamba para o dramatismo, com o animal a correr risco de vida, a padecer de sofrimento, a ser assaltado por uma onda de tristeza. Estes sentimentos negativos invadem-me de tal forma que não consigo conter uma lágrima furtiva.
Mas depois o filme acaba sempre bem. O animal deixa de sofrer e volta ao remanso do lar, para junto dos seus donos, reencontrando-se com a felicidade. O sofrimento infligido ao espectador é compensado pelo desfecho que acorrenta a bonança ao epílogo da história. As pessoas mais sensíveis, aquelas que não conseguem disfarçar a emoção nas cenas em que o animal estava a sofrer, ficam com a alma apaziguada ao saberem que tudo acabou em bem.
A minha mania consiste em não conseguir ver estes filmes. Aliás tenho que admitir que o estereótipo não me faz espectador assíduo do género cinematográfico, porque a qualidade não é o seu traço distintivo. Esta mania vem a propósito porque há dias passava na televisão um destes filmes e aqui em casa o canal continuava teimosamente sintonizado no filme. Foi aí que recordei como em pequeno me mortificava sempre que assistia a um filme deste género. Fugi do ecrã a sete pernas, refugiei-me num momento de leitura. Curiosamente, à medida que os olhos passavam pelas palavras, à medida que ia dedilhando as páginas, sentia que era uma leitura ausente. Era incapaz de recordar o que tinha acabado de ler há uns escassos momentos, porque a cabeça continuava ocupada pela mania que me faz fugir dos filmes onde os animais têm algum protagonismo.
Chegado a este ponto, uma revelação pouco simpática (sobretudo para os que têm um pendor mais humanista): sou capaz de ver filmes onde se simula o sofrimento humano, com as doses industriais de violência que retratam, afinal, o mundo violento em que vivemos. Sou insensível à ilustração do sofrimento humano e não consigo ter a mesma reacção quando as imagens retratam o sofrimento de animais (seja em filmes, em documentários sobre a vida animal, ou até em reportagens que noticiam maus tratos em animais).
Há uma explicação para este desequilíbrio? Só encontro uma: o ser humano é prisioneiro da sua pretensa superioridade enquanto espécie. De tanto o Homem puxar os galões como a única espécie animal dotada de racionalidade, tantas vezes ele tem resvalado para a violência que raia a ignomínia. É um lugar-comum dizer que o ser humano é a maior ameaça à espécie, com o historial interminável de guerras e de violência que o levam a sacrificar os seus pares. A racionalidade como fundamento da superioridade humana é a armadilha que leva o Homem para o descaminho da insensatez. Já os animais, destituídos dessa racionalidade, encontram-se mais expostos. São criaturas mais frágeis, indefesas, tantas vezes martirizadas pela estupidez humana. Que, não satisfeita pela orgia de violência e de sofrimento que insiste em praticar sobre si mesmo, a prolonga para criaturas mais fracas.
Estes filmes, todas as imagens que expõem a debilidade de animais, são a reincidência da insensibilidade humana. Espelham a essência do espírito animalesco que faz do Homem a celebração de uma espécie que se abastarda. Retratar o sofrimento de animais é o braço prolongado da essência humana de crucificação, da necessidade de encontrar o sofrimento para se exporem fraquezas e fortalezas que contrastam. Como se fosse necessário partir ao encontro do bem-estar através da redenção do sofrimento.
Réstias de uma religiosidade sempre latente no ser humano.
1 comentário:
"Réstias de uma religiosidade sempre latente no ser humano"
Deixa lá ver se eu entendo....
réstias-qual feixe de luz....religiosidade- vinda do céu???!!!! estou a imaginar já um "laser beam" de religiosidade a cobrir os nossos corpos.......
será isto que queres dizer?
A religiosidade, será ela transmissível por feixe de luz (talvez mais por ignorância).
temos então um feixe automático de transmissão de energia religiosa ( terá então a religiosidade caracter de energia?positiva? mais negativa não? )automática pois não estou a ver alguém manualmente a primir o laser da energia religiosa ( ...uolha deixa-me lá ver ...vou agora enviar 3 magawatts de budismo ali para os lados dos Himalaias)
latente, disfarçado e oculto.......será mesmo isto que queres dizer?
Estou abismado...qual tiro no pé...qual David Beckman ainda não descobriste aquela dos yogurtes...deves estar roido.....um gajo inteligente como tu e não teres entendido ( ou então disseram-te)........ai que já estou a ferver.....aiaiaiai.
a paciência já voltou?
nunca a perdi.......deram-me algum prazer alguns " diálogos publicos que aqui tivemos" e que tiveste a brutalidade e como tal , autoridade de terminar.Sinto que és mais do que mostras.....vá lá sorri, o mundo está aí, sem religiosidade, nem ocultismos, nem feixes de luz, apenas equilibrio, nós, eu, todos..equilibrio
........não existem coincidências mas se apareci aqui foi com um objectivo,que talvez não soubesse no inicio...hoje sei....
equilibrar-te
pois bem
sou o
Carter
Carter quer dizer CARlos TERenas
tenho paciência e equilibrio
espero por ti o tempo que for necessário,esperei por mim quase 35 anos
um abraço
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