Uma das localidades que mais gosto de revisitar. A Sintra refrescante, onde se é embriagado pelo verde que trepa pela montanha abrupta que toma conta da vila.
A aproximação a Sintra anuncia a frondosa serra como ponto de mira, um enorme promontório que se debate no horizonte. Uma serra com densa vegetação que separa a Sintra oitocentista do mar agreste batido pelo marítimo vento fresco. Também é possível chegar a Sintra vindo das entranhas da serra, seja pela Malveira da Serra ou por Cascais, virando para a Lagoa Azul a seguir ao autódromo. Qualquer dos caminhos obriga o viajante a entrar na serra compacta, por trilhos estreitos com asfalto mal cuidado – caminhos que trazem à memória gloriosas recordações do rali de Portugal apinhado de gente que preenchia louca e religiosamente as bermas ansiando pelas perícias dos ases do volante.
Andar pelas estradas da serra exige a tranquilidade de um domingueiro para tragar cada segundo da paisagem que passa à frente dos olhos. O arvoredo é uma mancha densa, chegando (sobretudo depois do cruzamento onde se vira para a Peninha) a fazer um túnel que se debruça sobre o recorte do asfalto, ensombrado pelo arvoredo que tomba sobre a estrada. Aqui sente-se a frescura do verde que acompanha o viajante na subida da serra. Num dos pontos mais altos, antes de engatar na estrada que vem do Convento dos Capuchos para o Palácio da Pena, um recorte da estrada desnuda uma clareira que espreita entre o arvoredo. Ao longe, toda a baía de Cascais na sua curvatura côncava, o mar tinido, cor de prata, batido pelo sol de Verão. Paragem obrigatória para respirar a grandeza da serra que desliza em direcção ao mar, a serra que se desfralda até dobrar a costa na esquina que é o ponto mais ocidental da Europa – o Cabo da Roca.
A caminho de Sintra, a vegetação continua teimosamente a impedir que o sol espreite por entre a ramagem que se solta com abundância. O caminho faz-se sombrio, cativando a frescura tão providencial em dias de canícula. As árvores continuam a dominar o meio, árvores de grande porte que coabitam com outras mais pequenas, árvores que vão crescendo com a singular vitalidade da natureza. A espaços os sinais do seu crescimento imparável fazem-se notar nas raízes que começam a tomar conta das bermas, causando ondulações que trazem desconforto à estrada. Porém, perante uma fonte que irradia tanta verdura, os excessos da natureza perdoam-se.
Ao chegar ao Palácio da Pena a estrada empina na descida final até Sintra. Uma sucessão de cotovelos abranda o trajecto. A sinuosidade é o preço da íngreme encosta que se vê quando, já em Sintra, o olhar empurra o pescoço na direcção das alturas para alcançar a grandiosidade do monte que se debruça sobre a vila. Aqui chegado, sinto sempre um revigoramento especial. Tudo se passa como se, estranhamente, fosse a primeira vez que venho a Sintra. Sempre extasiado pela beleza arquitectónica, pelo delicado equilíbrio dos edifícios que surgem alcantilados, por entre as estreitas vielas que irrompem pelas ladeiras e trazem ao passeante uma salutar canseira.
Sintra parece ter parado no tempo algures no século XVIII. As casas rosadas, umas senhoriais outras com singeleza, sucedem-se. Mantidas com zelo, é raro deparar com casas em ruínas ou ao abandono. Nota-se que os sintrenses mostram orgulho na pérola que sabem conservar, exibindo-a com um garbo incomparável. Calcorrear as calçadas íngremes é um exercício de retrocesso no tempo. Sentir o pulsar da vila na sua antiguidade latente é perceber os atributos que fizeram da Sintra romântica poiso para poetas e escritores de todas as paragens. Lord Byron teve a sagacidade de se aqui se instalar em busca da inspiração para os seus escritos. E como é fácil encontrar na verdejante Sintra, naquele aglomerado de casas que teve a ousadia de desafiar as impiedosas montanhas, a musa inspiradora!
(Montijo)
A aproximação a Sintra anuncia a frondosa serra como ponto de mira, um enorme promontório que se debate no horizonte. Uma serra com densa vegetação que separa a Sintra oitocentista do mar agreste batido pelo marítimo vento fresco. Também é possível chegar a Sintra vindo das entranhas da serra, seja pela Malveira da Serra ou por Cascais, virando para a Lagoa Azul a seguir ao autódromo. Qualquer dos caminhos obriga o viajante a entrar na serra compacta, por trilhos estreitos com asfalto mal cuidado – caminhos que trazem à memória gloriosas recordações do rali de Portugal apinhado de gente que preenchia louca e religiosamente as bermas ansiando pelas perícias dos ases do volante.
Andar pelas estradas da serra exige a tranquilidade de um domingueiro para tragar cada segundo da paisagem que passa à frente dos olhos. O arvoredo é uma mancha densa, chegando (sobretudo depois do cruzamento onde se vira para a Peninha) a fazer um túnel que se debruça sobre o recorte do asfalto, ensombrado pelo arvoredo que tomba sobre a estrada. Aqui sente-se a frescura do verde que acompanha o viajante na subida da serra. Num dos pontos mais altos, antes de engatar na estrada que vem do Convento dos Capuchos para o Palácio da Pena, um recorte da estrada desnuda uma clareira que espreita entre o arvoredo. Ao longe, toda a baía de Cascais na sua curvatura côncava, o mar tinido, cor de prata, batido pelo sol de Verão. Paragem obrigatória para respirar a grandeza da serra que desliza em direcção ao mar, a serra que se desfralda até dobrar a costa na esquina que é o ponto mais ocidental da Europa – o Cabo da Roca.
A caminho de Sintra, a vegetação continua teimosamente a impedir que o sol espreite por entre a ramagem que se solta com abundância. O caminho faz-se sombrio, cativando a frescura tão providencial em dias de canícula. As árvores continuam a dominar o meio, árvores de grande porte que coabitam com outras mais pequenas, árvores que vão crescendo com a singular vitalidade da natureza. A espaços os sinais do seu crescimento imparável fazem-se notar nas raízes que começam a tomar conta das bermas, causando ondulações que trazem desconforto à estrada. Porém, perante uma fonte que irradia tanta verdura, os excessos da natureza perdoam-se.
Ao chegar ao Palácio da Pena a estrada empina na descida final até Sintra. Uma sucessão de cotovelos abranda o trajecto. A sinuosidade é o preço da íngreme encosta que se vê quando, já em Sintra, o olhar empurra o pescoço na direcção das alturas para alcançar a grandiosidade do monte que se debruça sobre a vila. Aqui chegado, sinto sempre um revigoramento especial. Tudo se passa como se, estranhamente, fosse a primeira vez que venho a Sintra. Sempre extasiado pela beleza arquitectónica, pelo delicado equilíbrio dos edifícios que surgem alcantilados, por entre as estreitas vielas que irrompem pelas ladeiras e trazem ao passeante uma salutar canseira.
Sintra parece ter parado no tempo algures no século XVIII. As casas rosadas, umas senhoriais outras com singeleza, sucedem-se. Mantidas com zelo, é raro deparar com casas em ruínas ou ao abandono. Nota-se que os sintrenses mostram orgulho na pérola que sabem conservar, exibindo-a com um garbo incomparável. Calcorrear as calçadas íngremes é um exercício de retrocesso no tempo. Sentir o pulsar da vila na sua antiguidade latente é perceber os atributos que fizeram da Sintra romântica poiso para poetas e escritores de todas as paragens. Lord Byron teve a sagacidade de se aqui se instalar em busca da inspiração para os seus escritos. E como é fácil encontrar na verdejante Sintra, naquele aglomerado de casas que teve a ousadia de desafiar as impiedosas montanhas, a musa inspiradora!
(Montijo)
1 comentário:
Retiro o que disse anteriormente. Afinal o Sr. Vilamaior não deve ser advogado, não deve trabalhar numa daquelas instituições tipo pública e não é concerteza benfiquista. Já o vejo como uma pessoa com sensibilidade para apreciar o que o rodeia, sem aquele peso de quem carrega o mundo às costas.
Bem haja!
Eça
Enviar um comentário