Vejo Chavez, o protótipo de ditador que governa a Venezuela, numa prédica televisiva. Vejo-o embrulhado numa teatralidade patética, efusivamente celebrando a sua vitória no referendo que interrogou os venezuelanos se estavam de acordo com a sua permanência na presidência. Vejo como uma multidão, que assistia ao monólogo do projecto de ditador, exulta com alegria ao escutar as declarações populistas que borbulhavam a cada palavra regurgitada. Vejo Chavez sentenciar, do alto do seu poder absoluto, que deixa de reconhecer a oposição como parceiro político.
Assisto a tudo isto e pergunto porque certas esquerdas nacionais manifestaram contentamento com a vitória de Chavez e depois crucificam “a direita” que por cá vai governando por ser populista. Interrogo-me, sobretudo, se há diferenças entre o populismo “chavista” e o populismo de Santana Lopes e Paulo Portas. Existem diferenças de estilo, de discurso, antagonismos quanto aos modelos e aos objectivos da governação. Mas numa coisa estão irmanados – no populismo. É ininteligível como a extrema-esquerda doméstica (PCP e Bloco de Esquerda) se deixa armadilhar pela incoerência, eles que tanto se afadigam em veicular uma imagem isenta de incongruências: como acusar as figuras que nos governam de populismo, o pior dos pecados políticos à face da Terra, e depois deixar passar em branco o grosseiro populismo de um dos seus heróis contemporâneos, o presidente da Venezuela? A isto se chama dois pesos, duas medidas – e encerra uma incoerência que revela, com clareza, o oportunismo político destas facções.
Qualquer populismo é detestável. A política que se alicerça no populismo enfatiza a mensagem, privilegia a imagem, sem cuidar dos efeitos duradouros. O populismo é adversário da consistência, fica preso a políticas que deixam uma marca negativa quando os efeitos se repercutem no longo prazo. É a arte de fazer política enganando os incautos, que aplaudem com entusiasmo as decisões que aparentemente os beneficiam hoje, sem se preocuparem em saber se mais tarde elas não vão produzir efeitos negativos. No fundo, o populismo é a arte do ilusionismo político, uma arte em que os medíocres se salientam pela qualidade de levarem as massas no engodo da mensagem.
O retrato aplica-se a todos os populistas que enxameiam o mundo. Desde Chavez a Portas e Santana, passando por Berlusconi, Chirac, Blair ou Lula da Silva. Todos tentam passar para o exterior o seu “charme político”, divulgando iniciativas e medidas que vão ao encontro das preferências imediatas do eleitorado. Ainda que não sejam baseadas em estudos preparatórios credíveis, sem que repousem numa avaliação dos efeitos mediatos e imediatos. É política ao sabor do tempo, uma arte de navegar por estima.
Todos os exemplos citados encaixam-se nestas características, sem excepção. Por isso é para mim incompreensível como a extrema-esquerda nacional exultou de contentamento com a vitória de Chavez no referendo. Ter-se-ão esquecido que Chavez é, nos dias que correm, um expoente máximo de populismo? Basta ouvi-lo falar. Aqueles que, com razão, acusam a pose artificial de Santana e de Portas, deviam reconhecer que Chavez lhes leva, de longe, a palma. No final, não há surpresa: a extrema-esquerda gosta sempre dos ícones que encaixam na extrema-esquerda, independentemente de serem ou não populistas. Porque lhes convém.
Os simpatizantes da causa virão, pressurosos, sublinhar que Chavez tem governado para os mais pobres. O que Chavez tem feito é aproveitar-se da alta do preço do petróleo para financiar políticas generosas que são do agrado da imensa massa de pobres que existe na Venezuela. Só que o petróleo não pode ficar indefinidamente caro. Quando voltar ao seu preço normal, esgota-se a fonte de Chavez. Aí será difícil sustentar as políticas sociais activas. Cairá a máscara, e os pobres terão terreno para se revoltarem contra o “chavismo” inconsequente.
Chavez ganhou o referendo, só restando aceitar os resultados. Acho patético (como o fez a oposição venezuelana em desespero e certos sectores da direita nacional) questionar a legitimidade dos resultados do referendo. A menos que os próprios observadores internacionais estejam envoltos em suspeita – mas aí entramos num cenário em que cada um desconfia da sua própria sombra.
Assisto a tudo isto e pergunto porque certas esquerdas nacionais manifestaram contentamento com a vitória de Chavez e depois crucificam “a direita” que por cá vai governando por ser populista. Interrogo-me, sobretudo, se há diferenças entre o populismo “chavista” e o populismo de Santana Lopes e Paulo Portas. Existem diferenças de estilo, de discurso, antagonismos quanto aos modelos e aos objectivos da governação. Mas numa coisa estão irmanados – no populismo. É ininteligível como a extrema-esquerda doméstica (PCP e Bloco de Esquerda) se deixa armadilhar pela incoerência, eles que tanto se afadigam em veicular uma imagem isenta de incongruências: como acusar as figuras que nos governam de populismo, o pior dos pecados políticos à face da Terra, e depois deixar passar em branco o grosseiro populismo de um dos seus heróis contemporâneos, o presidente da Venezuela? A isto se chama dois pesos, duas medidas – e encerra uma incoerência que revela, com clareza, o oportunismo político destas facções.
Qualquer populismo é detestável. A política que se alicerça no populismo enfatiza a mensagem, privilegia a imagem, sem cuidar dos efeitos duradouros. O populismo é adversário da consistência, fica preso a políticas que deixam uma marca negativa quando os efeitos se repercutem no longo prazo. É a arte de fazer política enganando os incautos, que aplaudem com entusiasmo as decisões que aparentemente os beneficiam hoje, sem se preocuparem em saber se mais tarde elas não vão produzir efeitos negativos. No fundo, o populismo é a arte do ilusionismo político, uma arte em que os medíocres se salientam pela qualidade de levarem as massas no engodo da mensagem.
O retrato aplica-se a todos os populistas que enxameiam o mundo. Desde Chavez a Portas e Santana, passando por Berlusconi, Chirac, Blair ou Lula da Silva. Todos tentam passar para o exterior o seu “charme político”, divulgando iniciativas e medidas que vão ao encontro das preferências imediatas do eleitorado. Ainda que não sejam baseadas em estudos preparatórios credíveis, sem que repousem numa avaliação dos efeitos mediatos e imediatos. É política ao sabor do tempo, uma arte de navegar por estima.
Todos os exemplos citados encaixam-se nestas características, sem excepção. Por isso é para mim incompreensível como a extrema-esquerda nacional exultou de contentamento com a vitória de Chavez no referendo. Ter-se-ão esquecido que Chavez é, nos dias que correm, um expoente máximo de populismo? Basta ouvi-lo falar. Aqueles que, com razão, acusam a pose artificial de Santana e de Portas, deviam reconhecer que Chavez lhes leva, de longe, a palma. No final, não há surpresa: a extrema-esquerda gosta sempre dos ícones que encaixam na extrema-esquerda, independentemente de serem ou não populistas. Porque lhes convém.
Os simpatizantes da causa virão, pressurosos, sublinhar que Chavez tem governado para os mais pobres. O que Chavez tem feito é aproveitar-se da alta do preço do petróleo para financiar políticas generosas que são do agrado da imensa massa de pobres que existe na Venezuela. Só que o petróleo não pode ficar indefinidamente caro. Quando voltar ao seu preço normal, esgota-se a fonte de Chavez. Aí será difícil sustentar as políticas sociais activas. Cairá a máscara, e os pobres terão terreno para se revoltarem contra o “chavismo” inconsequente.
Chavez ganhou o referendo, só restando aceitar os resultados. Acho patético (como o fez a oposição venezuelana em desespero e certos sectores da direita nacional) questionar a legitimidade dos resultados do referendo. A menos que os próprios observadores internacionais estejam envoltos em suspeita – mas aí entramos num cenário em que cada um desconfia da sua própria sombra.
Não faltarão oportunidades para desmascarar os maus instintos democráticos do ditadorzeco. Quando afirmou, na sua homilia às massas, que deixava de reconhecer o estatuto de parceiro político à oposição, está a arrepiar caminho ao que ele quer – ficar sozinho, sem ninguém que o incomode, representando a “democracia” que esta gente (Chavez e a extrema-esquerda que por aqui anda) tanto gosta.
Sem comentários:
Enviar um comentário