9.8.04

TAP, Cardoso e Cunha e a demagogia socialista

Num acesso de bom senso, o governo demitiu Cardoso e Cunha da presidência do Conselho de Administração da TAP. Há vários meses que Cardoso e Cunha e o administrador executivo, Fernando Pinto, estavam em rota de colisão. Era uma crise de ciúmes pelo protagonismo do gestor brasileiro. Pela primeira vez desde a revolução de Abril de 1974, a TAP apresentou lucros. Pela primeira vez, desde então, o contribuinte não foi chamado a colocar do seu bolso a verba necessária para colmatar os sucessivos buracos financeiros que a “companhia aérea de todos nós” apresentava.

Cardoso e Cunha é a antítese dos resultados que Fernando Pinto conseguiu alcançar ao leme da TAP. O seu passado enquanto gestor público fica associado à gestão ruinosa da Parque Expo, onde se consumiram inutilmente milhões e milhões de euros de recursos públicos. Como em tantas vezes acontece quando se fala da gestão de empresas públicas, a irresponsabilidade campeia. A planificação empresarial está ausente, talvez porque a “casta” de gestores públicos que gira em torno destas empresas está habituada a um contexto que se afasta das regras da economia de mercado.

Esta gente foi “educada” a gerir com o dinheiro dos outros – o dinheiro que os contribuintes são obrigados a entregar ao Estado através dos impostos que não podem deixar de pagar. Como estamos a falar de uma imensa massa anónima; como se trata de avultados recursos que não têm titularidade pessoal; estes gestores públicos sentem-se à vontade para se afastarem de critérios de racionalidade económico-financeira. Daí os buracos financeiros que andam de braço dado com eles. Porque nas empresas públicas é fácil fazer uma gestão irresponsável: se o cobertor não chega para cobrir os pés e a cabeça, o Estado entra com um suplemento que serve para tapar o buraco.

No rescaldo, estes afamados gestores passam ao lado das penalizações que, em casos idênticos, um gestor de uma empresa submetida às regras do mercado teria que suportar: a demissão, o afastamento (mais ou menos prolongado) dos círculos da gestão empresarial. Com as empresas tituladas pelo Estado nada disto sucede. Uma elite constituída pelo bloco central – os gestores conotados com o PSD e com o PS convivem numa estranha cumplicidade, que muito diz quanto aos “rabos-de-palha” do bloco central – vagueia pelas empresas públicas, saltitando de empresa em empresa, arrastando consigo um cadastro nada aconselhável quando os resultados das empresas que geriram são recordados. Depois de um buraco financeiro são premiados com a colocação noutra empresa pública, até que se anuncie mais outro buraco financeiro.

Cardoso e Cunha é o espelho desta elite privilegiada que se tem banqueteado à custa das empresas que o Estado teima em manter. Talvez porque não estivesse habituado a conviver com lucros nas empresas públicas por onde passou, apanhou uma grande indigestão quando o gestor brasileiro divulgou os resultados positivos da TAP. Ciumeira pura: de nunca ter alcançado semelhante feito, e de ter estado na TAP (o paradigma das empresas públicas com buracos financeiros sem fundo) no momento em que a empresa inverteu a tendência, sem que o seu nome esteja associado a essa nova tendência. Como não pôde chamar a si os louros, entregou-se ao boicote interno minando o terreno dos gestores brasileiros que, até agora, tão bons resultados têm apresentado. Espera-se, agora, que Cardoso e Cunha tenha o seu prémio – afinal, um prémio por nada ter feito. Espera-se que na nova colocação de gestores públicos lhe saia na rifa mais um cargo com regalias principescas.

Uma nota final para comentar a reacção do PS. Nada a dizer pelo facto deste partido se congratular com o afastamento de Cardoso e Cunha. O que me deixou boquiaberto foi a conclusão tirada pelo porta-voz do PS, um tal Junqueiro. A rematar a sua reacção, lembrou que este episódio era a prova de que a escolha de Fernando Pinto pelo último governo do PS tinha sido uma excelente escolha.

Ilação: se não fossem os socialistas e as suas escolhas, este país estava uma devastação total. É preciso não ter vergonha! Não ter noção dos limites e reagir de uma forma despudorada, num perfeito aproveitamento oportunista para tirar proveitos partidários da situação. Em vez de festejar um quadro menos sombrio para o futuro da TAP – logo, para o erário público – este senhor que veio falar em nome do PS estava mais preocupado em elogiar o partido a que pertence.

Assim vai a partidocracia que nos rege, mergulhada num mar de incompetência, timbrada pela mediocridade que nada à superfície.

2 comentários:

Anónimo disse...

Subscrevo em absoluto todo o teu artigo.Com conhecimento efectivo da situação sublinho e acentuo o trabalho extraordinário da equipa de gestores brasileiros chefiada por Fernando Pinto.
Realmente e mesmo em condições adversas demonstraram que realmente conhecem o negócio da aviação.Só este facto fez a diferença das anteriores administrações.Conseguiu unir todos os trabalhadores, mesmo sem aumentos, com privatização do "Handling", com aumento das cargas de trabalho.....um exemplo na arte de bem gerir.
A frota de Airbus 310 é a mais bem gerida do mundo!
Caro felino, estes foram aspectos positivos,informações agardáveis que poderiam estar no teu artigo , contrabalaçando o aspecto de critica ( que eu defendo) e que contribuiria para uma maior acentuação do aspecto critico.
um abraço

Carter

Anónimo disse...

O grande Gaúcho Fernado Pinto meteu a TAP em 3mM€, buraco que será pago pelos contribuintes.

Cardoso e Cunha nunca quis aceitar os relatórios e contas oferecedos pele Gaúcho. Porque será? Mais uma RTP. ;D

A

Rui