Não é a imagem que interessa. Mais o discurso, que nestas alturas passa pelas promessas, pelas vãs promessas que embrulham as campanhas eleitorais num manto de demagogia. Os políticos como os vendedores de banha da cobra, sucedâneo de feirantes sem escrúpulos que prometem vender mercadoria de primeira água quando sabem tratar-se de bugiganga. Não é novidade, quando somos assaltados pela poluição visual que enxameia a cidade em tempos de campanha eleitoral. Promete-se muito. Muito mais fica por cumprir, quando chega o momento do deve e haver final.
Assis tenta captar as simpatias dos eleitores com promessas sintetizadas em locais estratégicos. Ao povinho, que se quer seguidor que nem um rebanho acéfalo, interessa puxar o lustro com a profusão de projectos e obras. O candidato cor-de-rosa não foge à regra. No cartaz onde expõe as promessas no sector da economia, três pontos. Gostava que me elucidasse o que é um "media (sic) parque". Talvez seja uma pedrada no charco, lançada pela cabeça brilhante deste político.
Antes disso promete um "polo (sic outra vez) empresarial de novas tecnologias". Por enquanto vou deixar de lado a questão do financiamento, de quanto nos custariam brincadeiras como esta se o senhor fosse eleito (coisa que parece ter poucas probabilidades). Registo que Assis quer construir algo para colocar o Porto no mapa das indústrias de ponta, ao estilo Silicon Valley. Chama-se a isto pôr o carro à frente dos bois. Pois se na cidade há uma desertificação de unidades fabris, por hoje exigirem espaços de grandes dimensões que não se encontram na exiguidade da cidade, como pode meter o Rossio na Betesga? E se a zona não é conhecida por possuir indústrias que se distinguem pela tecnologia avançada, para quê criar este pólo? A resposta é simples. Das duas uma: ou para ficar deserto, como aconteceu com o incrível edifício transparente; ou é uma daquelas promessas para enganar o patego que, em massa, elege quem nos governa. Para inglês ver, em suma.
O pretendente a edil promete ainda um centro de congressos que se pode transmutar em pavilhão multiusos. Não há quem lhe sussurre ao ouvido que este é um país à míngua de dinheiros? E que o escasso dinheiro não pode ser desbaratado em projectos faraónicos? O Porto está entre Leça da Palmeira e Santa Maria da Feira, onde já existem dois centros de congressos. Para quê construir outro no Porto? Pela mania das grandezas? Para depois este - ou um dos outros centros de congressos - ficar deserto na maior parte do tempo? E depois há a funcionalidade alternativa: um pavilhão multiusos. Se temos o Pavilhão Rosa Mota, onde se continuam a organizar competições internacionais (campeonato da Europa de hóquei em patins; importantes jogos de voleibol), para quê criar de raiz esta infra-estrutura? São perguntas que só têm uma resposta: a demagogia que veste os políticos em tempo de campanha. Uns mais do que outros, em alguns raiando o limite do absurdo. Como é o caso do senhor que se propõe liderar o Porto.
E depois há o risível da incoerência em que mergulha. Não são estes os lídimos representantes das "preocupações sociais"? Não são eles que se desdobram em vácuas declarações de apoio aos pobrezinhos, que prometem mundos e fundos para combater a miséria que campeia por aí? São os mesmos que depois prometem, sejam eles eleitos, enterrar estupidamente dinheiro em obras megalómanas, numa ostentação incompreensível. Desviassem essas verbas para as tais "preocupações sociais" e evitavam cair na tentação da incoerência - e seriam mesmo pessoas com preocupações sociais, não apenas no doce remanso da retórica.