Por fora das janelas flutuam nas nuvens castelos de formas diferentes. Uns de granito, outros de faustoso mármore, outros ainda exibindo o tom avermelhado dos tijolos. As ameias escondem os jardins de luxuriante flora, bordejados por lagos onde nadam nenúfares na sua placidez. Os olhos fitam o céu onde passeia a tenacidade dos castelos montados em nuvens vindas de todos os lugares. Nesses castelos levitam os sonhos que iludem a vida verdadeira. Uma distracção do tempo cinzento que tomou conta dos dias constantes, sempre tingidos pela luz baça que não deixa ver ao longe.
Passas horas e horas com o olhar petrificado nos castelos amontoados no ar. São eles mesmos os alicerces onde se acastelam as nuvens farfalhudas que se tornam densas, tapando o sol. Chegam castelos fantásticos, como se fossem torres babilónicas que emolduram toda a complexidade da vida. A teimosa complexidade da vida, quando ela carecia de terapêutica simplicidade. Nos castelos, num qualquer castelo, nidifica o segredo da simplificação dos passos que teimam em seguir pelos caminhos espinhosos. Só que te faltam as asas para poderes montar num desses castelos e por fim saberes o que escondem. Terias ainda que escalar as paredes altas e espreitar, a receio, entre as ameias que dão para o interior do castelo escolhido. A medo, não fosses descobrir que lá dentro povoa o mais decepcionante vazio.
Todas as horas gastas em oníricos devaneios são a demanda pelo castelo prometido. Vais, desenfreado, cansando as pedras já gastas dos dias anunciados. Sem te cansares de abrir janelas de par em par. As janelas que dão para o exterior. Mas também as janelas que se encerram dentro de ti, a urgência de perfumar com as pétalas dos dias diferentes a essência que voga pelo interior. Às vezes desconfias que os castelos não chegam montados nas nuvens sopradas pelo vento fresco. Desconfias que os castelos moram em ti. E se acaso os descobres no mapa indecifrável, são labirínticas construções que se espraiam diante dos teus olhos. Não a prometida simplicidade, apenas mais nutrientes da cansativa complexidade onde mergulhaste. Sem retorno possível.
O cepticismo perante os castelos interiores fossiliza-te. És o primeiro descrente de ti mesmo. Resta-te o refúgio algures fora de ti, nos castelos ansiados que chegam de paragens distantes, exóticos ou medievais, sem importar se são habitados por sereias ou por cavaleiros impantes no código de honra militar e decadente. Nada disso te interessa; só a luz que encontras nos castelos que passam montados em nuvens esbranquiçadas. São lugares diferentes dos que tu habitas, e por isso inacessíveis. E por serem inacessíveis, esses castelos são os sonhos onde vagueia a vida diferente que buscas, as pessoas diferentes que querias conhecer, as ideias tão diferentes das que empestam o horizonte que preenche a tua vista.
Só que esses castelos são ilusões que se desfazem na sua vacuidade. Sabes que se fosses magicamente guarnecido de asas, não haveria mister de montar as nuvens onde se amontoam os castelos. Os próprios castelos esfumar-se-iam ao toque das tuas mãos. Seriam castelos de areia, frágeis na sua ilusão onírica. O regresso ao ponto de partida. O dilema dos sonhos que não descerram janelas que trazem do outro lado paisagens frondosas. Os sonhos que são um nada apenas, sem cor nem som nem odor nem personagens tangíveis – só uma impressão vaga que o acordar atira, implacável, contra o peito ainda palpitante do sonho diluído. Sobra o sabor amargo na boca, afinal a náusea da vida sem ilusões que se deita nas folhas do calendário que dobras, metodicamente, a cada vez que a alvorada toma conta da noite.
Apesar das promessas que se demitem em si mesmas, como se fossem o vento que foge entre os dedos que o tentam capturar, insistes na demanda dos castelos que chegam pelo ar. Insistes, porque sabes que nos sonhos que eles prometem se escondem as ilusões apetecíveis, o refúgio das pedras pontiagudas que sangram os teus pés, todos os dias. As horas a fio em que levitas de ti mesmo e buscas refúgio nos castelos que pairam sobre a cabeça são a consolação que levas dos dias perenes. O único oxalá que ousas tecer. Para afastar as ruínas que se entretecem com o avançar dos dias.
Passas horas e horas com o olhar petrificado nos castelos amontoados no ar. São eles mesmos os alicerces onde se acastelam as nuvens farfalhudas que se tornam densas, tapando o sol. Chegam castelos fantásticos, como se fossem torres babilónicas que emolduram toda a complexidade da vida. A teimosa complexidade da vida, quando ela carecia de terapêutica simplicidade. Nos castelos, num qualquer castelo, nidifica o segredo da simplificação dos passos que teimam em seguir pelos caminhos espinhosos. Só que te faltam as asas para poderes montar num desses castelos e por fim saberes o que escondem. Terias ainda que escalar as paredes altas e espreitar, a receio, entre as ameias que dão para o interior do castelo escolhido. A medo, não fosses descobrir que lá dentro povoa o mais decepcionante vazio.
Todas as horas gastas em oníricos devaneios são a demanda pelo castelo prometido. Vais, desenfreado, cansando as pedras já gastas dos dias anunciados. Sem te cansares de abrir janelas de par em par. As janelas que dão para o exterior. Mas também as janelas que se encerram dentro de ti, a urgência de perfumar com as pétalas dos dias diferentes a essência que voga pelo interior. Às vezes desconfias que os castelos não chegam montados nas nuvens sopradas pelo vento fresco. Desconfias que os castelos moram em ti. E se acaso os descobres no mapa indecifrável, são labirínticas construções que se espraiam diante dos teus olhos. Não a prometida simplicidade, apenas mais nutrientes da cansativa complexidade onde mergulhaste. Sem retorno possível.
O cepticismo perante os castelos interiores fossiliza-te. És o primeiro descrente de ti mesmo. Resta-te o refúgio algures fora de ti, nos castelos ansiados que chegam de paragens distantes, exóticos ou medievais, sem importar se são habitados por sereias ou por cavaleiros impantes no código de honra militar e decadente. Nada disso te interessa; só a luz que encontras nos castelos que passam montados em nuvens esbranquiçadas. São lugares diferentes dos que tu habitas, e por isso inacessíveis. E por serem inacessíveis, esses castelos são os sonhos onde vagueia a vida diferente que buscas, as pessoas diferentes que querias conhecer, as ideias tão diferentes das que empestam o horizonte que preenche a tua vista.
Só que esses castelos são ilusões que se desfazem na sua vacuidade. Sabes que se fosses magicamente guarnecido de asas, não haveria mister de montar as nuvens onde se amontoam os castelos. Os próprios castelos esfumar-se-iam ao toque das tuas mãos. Seriam castelos de areia, frágeis na sua ilusão onírica. O regresso ao ponto de partida. O dilema dos sonhos que não descerram janelas que trazem do outro lado paisagens frondosas. Os sonhos que são um nada apenas, sem cor nem som nem odor nem personagens tangíveis – só uma impressão vaga que o acordar atira, implacável, contra o peito ainda palpitante do sonho diluído. Sobra o sabor amargo na boca, afinal a náusea da vida sem ilusões que se deita nas folhas do calendário que dobras, metodicamente, a cada vez que a alvorada toma conta da noite.
Apesar das promessas que se demitem em si mesmas, como se fossem o vento que foge entre os dedos que o tentam capturar, insistes na demanda dos castelos que chegam pelo ar. Insistes, porque sabes que nos sonhos que eles prometem se escondem as ilusões apetecíveis, o refúgio das pedras pontiagudas que sangram os teus pés, todos os dias. As horas a fio em que levitas de ti mesmo e buscas refúgio nos castelos que pairam sobre a cabeça são a consolação que levas dos dias perenes. O único oxalá que ousas tecer. Para afastar as ruínas que se entretecem com o avançar dos dias.
2 comentários:
bravo! bravissimo muito bom muito loko não só a escrita mas a escencia, tras a tona a verdade oculta do homem de hoje que busca fora de si o que só se encontra dentro; sem reparar que o tesouro que busca na terra so lhe trara a angustia e a amargura dos dias futuros gostaria de usar trechos para faser uma musica se o autor me permitisse
Autorizo.
PVM
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