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Numa
cápsula do tempo. Com capacete a preceito, que a viagem se prometia turbulenta
entre as nuvens espessas por diante. Amarraram-me à cadeira. Fiquei sem
perceber se era para não fugir do tempo vindouro que ia visitar, para não dele fugir
antes do tempo. Depois percebi. A viagem foi medonha. Diante dos olhos passava,
em velocidade supersónica, o calendário inteiro que separava do tempo em que
aterrei. A força de gravidade, não a consigo descrever. Ainda hoje os ossos e
os músculos andam à procura do lugar em que estavam.
Quando lá
cheguei era tudo asséptico. Não havia poluição. As pessoas vestiam todas de
igual. Umas fardas incolores, os mesmos penteados – até as cores dos cabelos
eram constantes. As pessoas sorriam, um plástico sorriso. Comportavam-se como
autómatos. Estranhei a ausência de polícia. Perguntei a uns quantos pelos
agentes da autoridade (já, por artes de magia, envergando traje e penteado
uniformes). Olharam-me, incrédulos. Um deles perguntou, com algum desdém à
mistura, de que planeta tinha vindo. Outro, mais velho e embebido em paciência,
jogou em cima de mim a presciência que procurara: “já não há polícias há
setenta anos. Desde que andamos com chip interior, foram extintas.”
Todos
garantiam: aquilo era o paraíso. Concórdia em modo celestial. Ninguém se
atrevia a dissidir. Ou a praticar o mal. Já nem sequer havia tribunais. A gente
com o livre arbítrio comandado pelo chip, por sua vez comandado numa insondável
central por gente que ninguém conhecia, não ousava pisar o risco. A ilegalidade
era conceito datado. Perante a oferta de harmonia, a turba aceitava a acefalia.
Com custos: a criatividade tinha sido castrada, as artes ressentiram-se na
produção e na qualidade. Pouca gente se interessava por artes e pela ciência –
a não ser os do escol, selecionados entre os melhores, para congeminarem sábios
e infalíveis programas informáticos que tudo passavam a pente fino, sem
deixarem vivalma incólume à lupa perscrutadora.
Tudo era
perfeito. Demais. Tão perfeito que mais parecia um pesadelo grotesco, as cores
claras e os sorrisos plásticos denunciando rostos macilentos que se forjavam
naqueles sorrisos falazes. Quando aterrei vindo do tempo futuro e distante,
reparei que o pessimismo antropológico que nos consome neste tempo vivente é um
exagero.
4 comentários:
Hehe..Felino roks ;)
Right on! ;)
Eh pá!
Esqueceste-te de perguntar pelo campeonato nacional de futebol! O Sporting devia ser campeão há 70 anos... (aquilo é só honestidade...)
Ponte Vasco da Gama
Tu andas obcecado por futebol, PVG...
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