In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQFHHAFsV4XExBpfMTZtNLyxv-Z90hk8E7Na-Dj7ImobB12xbhIm8MBNGq_Ogy1-de7eKb4PuIrJR72SNx7Is9fey5SW29RixwD0I2le2bIvV_X4ruKvf1LX7nu7y1sfQ5KFaLNg/s1600/leitura-criancas-lendo-ilustracao.jpg
Elas todas, as criancinhas, à
roda sentadas. Com o narrador ao centro. Perninhas à chinês, ou como lhes der
mais jeito. À média luz? Não: à luz inteira, para os olhos das criancinhas
serem irradiados pela refulgência acre dos dias por diante. Convém educá-las: os
contos de fadas são ardilosos. Mais tarde, quando elas forem elevadas à intuição
e tirarem conclusões sem a ajuda de ninguém, não hão de perdoar quem lhes
empacotou as ilusões com cenários cheios de pós de perlimpimpim que são o
engodo de mágicos amadores.
O conto infantil deve apresentar
as pedras pontiagudas, as nuvens plúmbeas, as chuvas ácidas que ferem o dorso.
As decepções. E as contrariedades. Oferecer um lampejo das histórias que
contrariam os finais felizes teimosamente militantes nas historietas infantis
das convenções. O conto infantil deve ser um pano que se levanta sobre o
terreno acidentado que se oferece diante dos pés das criancinhas. Mas deve ser
um naco realista. Avisando-as que os contos de fadas com que se deitam à noite,
quando o sono parte em demanda de sonhos abonançados, são capitulações.
As criancinhas, todavia instruídas
que a maldade não é metódica insanidade da espécie. Há bondade, há
generosidade, há sorrisos descomprometidos, gestos afetuosos embebidos na sua
espontaneidade. Palavras que, de tão belas, desatam os sentimentos, eles também
tão belos. Há de tudo. No fim do conto, que saiam dele advertidas que a
existência é um devir cheio de complexidade. Um labirinto onde se clarificam
todas as coisas heterógenas. Os petizes não devem sair de cena, ao cabo da
narrativa, cabisbaixos e apavorados. O planeta e essa coisa assustadora a que
se convencionou chamar “sociedade” são a simbiose do bem e do mal.
Da próxima vez que fossem
convocadas a ouvir um conto, de preferência com uns anos adicionados no lombo
da experiência, seriam desafiadas a equacionar as convenções. Nessa altura,
alguém, possuído de uma frieza sepulcral, dir-lhes-á que o “bem” e o “mal” são
relatividades impossíveis de objetivar.
Os jovens, então, a caminho do
tirocínio deste tempo.
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