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As crises, quanto mais fundas e
demoradas, melhores. É nelas que mais se puxa o lustro à criatividade. Já em
tempos, um especialista nos efeitos terapêuticos das crises (Schumpeter)
explicou que elas produzem uma força criativa. Servem para varrer a poeira do
chão e começar a construção do zero. Garante o especialista que ficamos
orgulhosos da empreitada.
Vou às manifestações de
criatividade que, com esta crise, fervem nas mentes inventivas que saíram da
toca. Um dia destes, um daqueles gurus internacionais da economia (Roubini)
tirou um gordo coelho da cartola: para a Europa se livrar da crise, o governo
da Alemanha deve forrar os bolsos dos seus contribuintes com mil euros. Com uma
condição: o complemento ao subsídio de férias só seria obtido se os subsidiados
fizessem férias num dos pobretanas mediterrânicos que está a beira da apoplexia
financeira.
Vamos passar a ideia como se
fosse um filme diante dos nossos olhos. Cada pagador de impostos alemão a
receber um cheque-férias de mil euros. E depois, tinha de assinar um
compromisso de honra declarando que a maquia ia ser gasta em férias
mediterrânicas? Podia a execução da notável ideia corresponder a outra
modalidade: como consta que os alemães desconfiam de tudo e de todos, a
idiossincrasia estaria de contágio às autoridades. Das duas, uma: ou o cheque
seria endossado a uma agência de viagens que faria as marcações dos voos e do
complexo turístico num dos quatro mediterrânicos de calças na mão; ou os mil euros
seriam pagos contra fatura comprovando a estadia em destino mediterrânico
(nunca confiando).
Adivinha-se a plausibilidade da
ideia. Os alemães a serem indiscretamente convidados a fazerem férias onde se
calhar não lhes apetece pôr os pés. E os outros que quisessem destinos
diferentes a serem ostracizados, sem poderem deitar mão ao subsídio de férias
extra.
Como anteontem com o texto do
Rui Tavares, a conclusão engatilhada: Nouriel Roubini tem de ter cuidado com os
fornecedores de substâncias intoxicantes. Parece que elas andam adulteradas.
Com prejuízo para o juízo.
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