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O dia maior. A claridade estende-se
pelas horas maiores. A noite fica anã. Nos sítios árticos, a noite desfaz-se em
nada, locupletada pela irradiação da luz diurna. Não há noite, sequer. O
solstício estival é inimigo dos morcegos, dos animais albinos e dos amantes da
vida noturna. Pobres dos últimos, que esperam com impaciência até que a
penumbra se desfaça no horizonte. Mas é noite fugaz, o ocaso da escuridão em
breve aprazado pelo despontar apressado do sol que se pressagia quando aos
olhos se anuncia, vinda de nascente, a claridade madrugadora.
Estranhamente, no dia mais largo
é quando o Verão mete o seu tirocínio. O Verão é a estação mais quente; a
estação que convoca deambulações noturnas quando as noites, ainda curtas,
vociferam aragem exótica. Mal o Verão entra em cena as noites engordam minuto a
minuto, dia atrás de dia. Estranha alquimia. Se as noites compridas são uma
temperança invernal, elas começam a montar no tempo reservado à claridade
diurna assim que o Verão – a antítese da invernia – descobre a sua alvorada.
O solstício devia ser a
consagração da claridade. Deviam os seus amantes entoar cânticos que
prolongassem a agonia da noite que esbarra na teimosia do dia mais largo. Podia
ser que à força dos cânticos a luz diurna se estendesse além das horas ditadas
no almanaque.
A luz diurna é um palco sem
cortinas na retaguarda. Sem atores simulando cantorias, apenas balbuciando
palavras sem som. É a luz que se incompatibiliza com disfarces e ardis. Nessa
luz os dedos passeiam-se pela nudez das coisas, onde não há tempo e modo para
os arremedos que transbordam artificialidade. Na duração interminável do dia do
solstício, aviva-se a sua finitude. Quando o sol se evapora no fio do
horizonte, rocia o primeiro perfume invernal através da inaugurada estação
estival. Um paradoxo. À imagem do planeta que nos alberga.
1 comentário:
De entre tanto rituais pagãos sobrevividos pelos séculos do séculos, muitos dos quais sem grandes alicerces (pelo menos aos olhos dos dias de hoje), o solstício foi elegantemente banido.
Merecia melhor sorte, por tudo isso que apontaste e mais um bom punhado de grãos de areia de razões!
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