In http://0.tqn.com/d/vetmedicine/1/G/7/X/dog-nose-kalimistuk-sm.jpg
Continua o sobressalto dos
espiões que esquadrinham, indecentemente, vícios privados de notáveis. É a
chamada “baixa espionagem”. Quando era novo, aprendi que os serviços secretos
só cuidavam de assuntos sensíveis para a soberania. Mas como a soberania cuida
de se reconfigurar, talvez a modernidade tenha trazido uma nova missão aos
serviços secretos. As ameaças coalham na devassa da intimidade de uns quantos
notáveis. Os que mandam nos espiões devem andar entretidos com reality shows da televisão.
A cada dia, mais relatórios
rasando a pente zero a intimidade de outro notável. Andamos inquietos. Meio na
paródia, olhamos para os lados e para cima para perceber se não somos os
próximos a cair na malha dos segredos cujo taipal foi levantado por zelosos
espiões. Mas sosseguem: não somos notáveis. A nossa vidinha não interessa a
nenhuma alma penada. Os espiões, recurso escasso (suponho, atendendo aos cortes
a eito no funcionalismo público), estão focados na intimidade dos conhecidos.
Os serviços secretos descambaram para uma versão hard core de revistas cor-de-rosa.
De resto, ao descapitalizarmos
os serviços secretos cometemos uma terrível injustiça. Os espiões, cegos como
devem ser, não olham a meios para chegar ao desiderato pretendido. São
imparciais. Suplantam a impudicícia que cobre as manchas da vida privada que
somos incapazes de revelar. Ora se tanto se apregoa a transparência, quem pode
acusar os serviços secretos se eles são um poderoso branqueador? Poderão
contrapor, talvez metidos na apoplexia de verem o vosso nome enxertado no
sorteio do próximo relatório secreto: mas isso faz-se contra a vontade, e por
cima do desconhecimento, dos visados. É feio. E pidesco.
Os tempos não varreram todos os
despojos das vergonhas de outrora. Convençamo-nos. Esta cultura voyeur não deixa de nos morder nas
canelas. É um sifão que deita uma espuma de bisbilhotice sobre a
idiossincrasia. Os serviços secretos, que ainda existem pese embora o seu
anacronismo, são um dos últimos, e bem guardados, redutos dessa aleivosia.
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