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Tira as carnes rijas do
refrigério forçado onde estavam aquarteladas. De tão rijas que eram, e de terem
soçobrado ao ar congelado onde as meteste, enrijaram mais ainda. Dizes que é
tempo de as amaciar. De as temperar com os aromas mascavados das ervas, dos
condimentos certos que apimentam a existência – daqueles que trazem os bons
sobressaltos, uma apoplexia tórrida. Tal como as coisas acontecem, seguindo o
seu percurso não forjado, as carnes pedem-te que as despegues da ossatura onde
tudo é aspereza.
É uma nova alvorada que
desponta. A aragem renovou-se. Refrescada com o orvalho matinal, como se as
gotículas que se desprendem vagarosamente das plantas fossem um banho em forma
de bálsamo. Usa essa água para a temperança das carnes que se deitam ao
necessário amaciamento. Usa ervas com predicados aromatizadores que encontrares
nas redondezas. Uns molhos não ao acaso, que os acasos são erráticos. Combina
os aromas como se tratasses da alquimia de uma fragrância. Quando por fim
encontrares a combinação acertada das ervas, os odores que perfumam o lugar são
um êxtase que reconhecerás.
Agora é quando embebes as carnes
já descongeladas, mas ainda rijas, na alquimia das ervas e dos demais
ingredientes que vão liquefazer a severidade. Azeites de primeira água e vinhos
que acentuam o perfume das ervas, mais uns alhos esmagados em grosseira forma.
O leito onde as carnes se entregam por uma temporada. Amaciando-se, deixando-se
ser templo onde outras carnes se encaixam. Não apresses as carnes em demanda da
sua maciez. Os livros pantagruélicos ensinam que as precipitações adulteram o
amaciamento: teimes em meter o tempo num varapau e terás as carnes impróprias.
As mãos dão-te o termómetro do
processo. Metes as mãos na vinha d’alhos onde as carnes estão em lenta
cerzidura. Quando as mãos vierem escorreitas, sem gordura adejando os dedos,
com o perfume das ervas em ebulição bastante; e quando os dedos não esbarrarem
na resistência que dantes era pétrea, metendo-se na macieza das carnes, saberás
que encontraste o diadema do equilíbrio.
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