4.6.12

Quem quer ser rico?


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Porventura, muitos. Até muitos dos que se assanham quando aparece um rico a perorar sobre os assuntos que os microfones colocam diante da boca. Pelo menos na teoria, a inveja é coisa pouco recomendável. Mas a inveja da abastança alheia parece ser o fado da multidão que atiça os mastins contra os endinheirados, mesmo que lhes passe pelos sonhos deitar mão a um quinhão dessa abastança (e, talvez, para logo de seguida, inebriados pelos muitos zeros a preceder o sinal do euro, reproduzirem os tiques que agora censuram).
É coisa difícil, ser rico nos dias que por aí andam. A crise cava um fosso entre os endinheirados e os outros. Estes, com o gérmen da revolta ateado e a lucidez substituída pela retaliação, açoitam os ricos. Todos os males lhes são imputados. Resgatam Marx e discípulos da gaveta para dar corda à luta de classes, convencidos que os abastados são biltres por desvio genético. “Eles comem tudo e não deixam nada”, glosando o pregão que ficou famoso quando a temperatura pós-revolucionária estava para devaneios líricos (a ditadura do proletariado, uma gosma em jeito de antítese intelectual).
Eu tenho um problema com simplificações, generalizações e estereótipos. É o que dá quando se toma a árvore pela floresta. Com assinalável frequência, isto descamba em terríveis injustiças. Concedo: há por aí uns Salgados, Carrapatosos, Zeinais, Amorins, Mexias, Borges, Berardos e quejandos que deviam estar enfiados na sua dourada toca em vez de aparecerem em jeito invariavelmente autofágico. Quando opinam, costumo perceber por que têm de existir os sindicatos (mesmo sendo as anacrónicas entidades que são).
É o mal de querer a fama na comunicação social. Querem aparecer e depois estragam tudo quando abrem a boca. Põem-se a jeito para a implacável ira da populaça. Mas daí a lhes serem imputadas, sem direito de defesa, as piores intenções – como se entre ser rico e abusos praticados sobre os trabalhadores haja uma causalidade imperativa – é excessivo. Eu, com o mau feitio proverbial e a mania de ir contra as marés, acabo por sentir ternura pelos ricos. Até pelos Zeinais que por aí andam, todos sorridentes, modernaços e a confundir a língua nativa com o inglês fartamente técnico que se fala na alta finança.

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