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Porventura, muitos. Até muitos
dos que se assanham quando aparece um rico a perorar sobre os assuntos que os
microfones colocam diante da boca. Pelo menos na teoria, a inveja é coisa pouco
recomendável. Mas a inveja da abastança alheia parece ser o fado da multidão
que atiça os mastins contra os endinheirados, mesmo que lhes passe pelos sonhos
deitar mão a um quinhão dessa abastança (e, talvez, para logo de seguida,
inebriados pelos muitos zeros a preceder o sinal do euro, reproduzirem os
tiques que agora censuram).
É coisa difícil, ser rico nos
dias que por aí andam. A crise cava um fosso entre os endinheirados e os
outros. Estes, com o gérmen da revolta ateado e a lucidez substituída pela retaliação,
açoitam os ricos. Todos os males lhes são imputados. Resgatam Marx e discípulos
da gaveta para dar corda à luta de classes, convencidos que os abastados são biltres
por desvio genético. “Eles comem tudo e não deixam nada”, glosando o pregão que
ficou famoso quando a temperatura pós-revolucionária estava para devaneios
líricos (a ditadura do proletariado, uma gosma em jeito de antítese
intelectual).
Eu tenho um problema com
simplificações, generalizações e estereótipos. É o que dá quando se toma a
árvore pela floresta. Com assinalável frequência, isto descamba em terríveis
injustiças. Concedo: há por aí uns Salgados, Carrapatosos, Zeinais, Amorins,
Mexias, Borges, Berardos e quejandos que deviam estar enfiados na sua dourada
toca em vez de aparecerem em jeito invariavelmente autofágico. Quando opinam,
costumo perceber por que têm de existir os sindicatos (mesmo sendo as
anacrónicas entidades que são).
É o mal de querer a fama na
comunicação social. Querem aparecer e depois estragam tudo quando abrem a boca.
Põem-se a jeito para a implacável ira da populaça. Mas daí a lhes serem
imputadas, sem direito de defesa, as piores intenções – como se entre ser rico
e abusos praticados sobre os trabalhadores haja uma causalidade imperativa – é
excessivo. Eu, com o mau feitio proverbial e a mania de ir contra as marés,
acabo por sentir ternura pelos ricos. Até pelos Zeinais que por aí andam, todos
sorridentes, modernaços e a confundir a língua nativa com o inglês fartamente
técnico que se fala na alta finança.
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