In http://images.izideal.com/img/product/4824460/l/pt/race-sport-dados-de-peluche-para-pendurar-brancos-7-x-7-cm.jpeg
Lembro-me, ainda era infância,
de um ranhoso que tentava mudar as regras a meio dos jogos quando reparava que
a derrota estava a um passo de distância. Lembro-me de um episódio que ficou
gravado na memória: jogávamos ao “monopólio” e os dados dele não podiam acertar
numa determinada soma, senão caía numa avenida já ocupada por um hotel. Naquela
altura do jogo, ele sabia que não tinha haveres para pagar a alçada do hotel
caso lá coincidisse. Era a falência. E como o rapaz não gostava de perder, o
que perdeu foi o juízo ao exigir lançar os dados outra vez – com um pretexto
mal amanhado (que me não recordo qual foi). Aquilo acabou mal, quase à pancada.
Vem o episódio a propósito do
mau perder antecipado (se é que se lhe pode chamar dessa forma) de muita
imprensa europeia, ecoando a apoplexia de muitos líderes políticos, em vésperas
de eleições na Grécia. Havia sondagens que atiravam a extrema-esquerda (Syriza)
para os braços do poder. Cenários dantescos passaram nos oráculos, e fizeram-se
ameaças aos eleitores gregos, tudo entre uma histeria pouco abonatória das
credenciais democráticas. Eis o pior paradoxo: era tamanho o atentado à
democracia (por causa da negação do fair
play eleitoral antes do tempo – e esta extemporaneidade acentuava o
despropósito), que o Syriza, tão antidemocrático, depressa se entronizou
patrono da democracia.
Não sei o que mais custa: se
jornais e políticos de cabelos em pé, vomitando ameaças sobre os eleitores
gregos (caso votassem em quem, na sua muito perspicaz lente, não devia recolher
as preferências); se a pessoal brotoeja por ser empurrado, neste caso, para a
defesa da posição da extrema-esquerda caviar lá do sítio. Aborrece-me que os
defensores da extrema-esquerda tenham ficado abespinhados, e acertadamente
abespinhados, com a desconsideração e a intrusão de forasteiros. Como reagiam
esses forasteiros se outros forasteiros ditassem palpites sobre as suas
próprias eleições?
Se calhar, devemos repensar a
democracia. De uma vez por todas, vetar a participação daqueles que se
desconfia não serem mentores da democracia e dos seus valores. Um dia destes,
decreta-se em antecipação os resultados impossíveis numa eleição. Nem que a
democracia se indefira a si mesma e os tais que se arvoram tutores da
democracia se atraiçoem em auto-negação.
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