20.6.12

É feia, a batota eleitoral


In http://images.izideal.com/img/product/4824460/l/pt/race-sport-dados-de-peluche-para-pendurar-brancos-7-x-7-cm.jpeg
Lembro-me, ainda era infância, de um ranhoso que tentava mudar as regras a meio dos jogos quando reparava que a derrota estava a um passo de distância. Lembro-me de um episódio que ficou gravado na memória: jogávamos ao “monopólio” e os dados dele não podiam acertar numa determinada soma, senão caía numa avenida já ocupada por um hotel. Naquela altura do jogo, ele sabia que não tinha haveres para pagar a alçada do hotel caso lá coincidisse. Era a falência. E como o rapaz não gostava de perder, o que perdeu foi o juízo ao exigir lançar os dados outra vez – com um pretexto mal amanhado (que me não recordo qual foi). Aquilo acabou mal, quase à pancada.
Vem o episódio a propósito do mau perder antecipado (se é que se lhe pode chamar dessa forma) de muita imprensa europeia, ecoando a apoplexia de muitos líderes políticos, em vésperas de eleições na Grécia. Havia sondagens que atiravam a extrema-esquerda (Syriza) para os braços do poder. Cenários dantescos passaram nos oráculos, e fizeram-se ameaças aos eleitores gregos, tudo entre uma histeria pouco abonatória das credenciais democráticas. Eis o pior paradoxo: era tamanho o atentado à democracia (por causa da negação do fair play eleitoral antes do tempo – e esta extemporaneidade acentuava o despropósito), que o Syriza, tão antidemocrático, depressa se entronizou patrono da democracia.
Não sei o que mais custa: se jornais e políticos de cabelos em pé, vomitando ameaças sobre os eleitores gregos (caso votassem em quem, na sua muito perspicaz lente, não devia recolher as preferências); se a pessoal brotoeja por ser empurrado, neste caso, para a defesa da posição da extrema-esquerda caviar lá do sítio. Aborrece-me que os defensores da extrema-esquerda tenham ficado abespinhados, e acertadamente abespinhados, com a desconsideração e a intrusão de forasteiros. Como reagiam esses forasteiros se outros forasteiros ditassem palpites sobre as suas próprias eleições?
Se calhar, devemos repensar a democracia. De uma vez por todas, vetar a participação daqueles que se desconfia não serem mentores da democracia e dos seus valores. Um dia destes, decreta-se em antecipação os resultados impossíveis numa eleição. Nem que a democracia se indefira a si mesma e os tais que se arvoram tutores da democracia se atraiçoem em auto-negação. 

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