27.6.12

Socializar, por aí


In http://openreflections.files.wordpress.com/2011/08/crowd_2.jpg
O senhor secretário de Estado, todo poderoso na sombra, de visita ao centro paroquial. Outra inauguração. Com a procissão de assessores e repórteres e câmaras, fotográficas e de filmar. Mais o povo convocado a preceito. Havia instruções para um banho de multidão acompanhado de cartazes com loas aos que mandavam. Corria à boca pequena: o secretário de Estado, pessoa influente, tinha muitas cartas na manga. E informações privilegiadas, um serviço secreto paralelo. Mandava mais que todos os ministros juntos. Tanto que era o único a despachar com o primeiro-ministro.
A gente estava alinhada à espera de sua excelência. Uns opositores, na contumácia que os levara à dissidência, tinham sido desviados com precisão cirúrgica (uns empacotados para distantes reuniões profissionais; outros atraídos no engodo da bebida fácil). Os petizes estavam numa algazarra ímpar: era dia sem escola. Os aplausos eram garantidos. Os ganapos agradeceriam um dia sem aturar os professores acinzentados (que, admiradores da coisa sindical, foram impedidos de comentar a efeméride).
Uns sabichões, recém encartados em estudos graduados sem serventia, reativaram a militância mal souberam, a uns dias de distância, de tão importante visita. Podia ser a saída para o desemprego teimoso (de uns), ou para o emprego precário (de outros), ou para o emprego aquém das ambições (da maioria). Naquele dia aperaltaram-se tanto que nem nas bodas respetivas (para os que já se tinham desembaraçado do celibato) alguém os vira tão apessoados. Teriam de chegar à fala com o secretário de Estado. Sentar-se perto dele no opíparo manjar que a depauperada autarquia organizara em genuflexão a sua excelência.
Constara que o secretário de Estado reservara hora e meia da agenda para audiências com os dedicados militantes que quisessem puxar lustro à copiosa influência. Era segredo (mal guardado). Os sabichões, aos magotes, apressaram-se à fila. Chegaram à fala com sua excelência. O secretário de Estado prometera, por sua honra, arranjar sinecura local ou nacional compatível. Só não disse em que tempo.
Dois anos depois, quem por ali socializou com tanta diligência estava no mesmo ramerrame ou tinha engrossado o exército dos desocupados. 

7 comentários:

Anónimo disse...

Já te inspiras no Loureiro??? Buscas um ideal imaginário?

Ponte Vasco da Gama

PVM disse...

PVG: o aprendiz de cantor dizia (salvo erro) "idealizar por aí". Repara que eu usei um verbo diferente e uma vírgula que faz toda a diferença...

Anónimo disse...

Por acaso era "surrealizar por aí" (estive a investigar). Enfim, socializar ou surrealizar, com vírgula ou sem vírgula, inspiraste-te no rapaz... estás com a "alma dorida".
Ponte Vasco da Gama

PVM disse...

Lamento desiludir-te, mas não me inspirei na personagem. Nem dele me lembrava...(morreu, ou quê?)

Anónimo disse...

Não. Mas matou o Boavista...

PVG

PVM disse...

Pode ser que o atual presidente, que é pessoa em quem confio, devolva o teu clube ao lugar que lhe pertence.

Anónimo disse...

Oxalá...!
PVG