In http://e-geo.ineti.pt/divulgacao/dossiers/images/cartografia.jpg
Um esboço. É sempre de uma folha
em branco que se parte. Às vezes, podem os primeiros traços que esboçam o
desenho (um desenho qualquer) sair a custo da ponta do lápis. É quando o lápis
se transforma em baioneta apontada contra quem o adestra. Os traços saem
forçados, grosseiros, arrevessados nas suas rasuras – e as rasuras
sobrepondo-se às ilusões que embaciam o olhar. Outras vezes, a mão que ampara o
lápis parece domada pela inércia. É como se fosse impossível o desenho – ou
como se, num acaso do tempo, a mão tivesse desaprendido a arte de desenhar para
o mundo.
Mas há outras vezes, escassas
ocasiões, em que o desenho, como as palavras ditas em sussurros adocicados, se desprende
da mão. Tão espontâneo como o entreabrir dos olhos, ou o ar que se inspira e
expira. Tão maquinal que se não dá conta da sua importância. Mas, todavia, tão essencial.
No mapa por diante, os dedos
detêm-se, vagarosamente. Os olhos aproximam-se em demanda dos detalhes do mapa.
São, os dedos, novos cartógrafos que mapeiam o terreno em redor. Eles redesenham
o mapa. Com o atrevimento de rebatizar os lugares por onde passaram. E nem a
penumbra obsta a função. Os montes e vales, as ribeiras que separam as porções
de terra, exclamam pelas mãos que se entrecruzam. Os dedos numa harmonia intraduzível
são pontes que abarcam toda a distância da paisagem. É nessa paisagem que as
mãos são artífices de uma gastronomia transformada em quadro gigante. As cores,
já não madraças, crepitam nos temperos aspergidos pelas mãos artífices. O
tempo, o tempo que por tanto tempo foi apenas vindouro, tratou de levantar as
pontas do véu. E tudo ficou ungido com a claridade de uma tarde banhada por uma
nortada balsâmica.
O segredo resguarda-se na
alquimia dos temperos.
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